Apesar do avanço nas demandas sobre a reforma tributária, sindicatos e estudantes marcaram para hoje uma nova greve geral na Colômbia. O Comitê Nacional de Greves se reuniu ontem com empresários e com o presidente, Iván Duque, e mas não chegou a um acordo e um novo protesto foi convocado.

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“Estamos fazendo uma mobilização nacional e isso será aprofundado com a convocação de amanhã (hoje). As mobilizações ocorrem para que haja uma negociação, para construir acordos com o governo”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo Julio Roberto Gómez, presidente da CGT (Confederação-Geral do Trabalho).

Líderes do comitê interromperam o encontro e pediram a Duque que se encontre com eles sem a participação de líderes de outros setores. O presidente colombiano, porém, afirma que o debate deve envolver toda a sociedade. Em resposta ao crescente descontentamento, Duque iniciou um “diálogo nacional” no domingo para abordar assuntos como a violência nas áreas rurais, a política ambiental e o “crescimento com equilíbrio”.

A convocação para a nova greve de hoje tem também outra motivação: a morte do jovem Dilan Cruz, manifestante que estava em coma desde sexta-feira, após ser ferido por um cilindro de gás lacrimogêneo na cabeça, disparado por um agente do Esquadrão de Motim Móvel (Esmad) – batalhão de choque da polícia. Na ocasião, 250 mil pessoas saíram às ruas no segundo dia de marchas contra as políticas econômicas e sociais do governo.

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Segundo Elias Fonseca, membro do comitê executivo da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), a morte de Cruz coloca uma nova reivindicação em pauta: o desmantelamento do Esmad. “Queremos o desmonte do Esmad, que é uma entidade que reprime os protestos sociais e nos assassina”, disse Juan Guerra, estudante universitário de 19 anos.

“Hoje, estamos de luto. Estamos feridos por essa situação. Mas estamos avançando, pois o governo Duque não atendeu aos pedidos dos trabalhadores e de todos aqueles que se envolveram na organização da greve nacional da última quinta-feira”, afirmou Fonseca.

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Cruz tornou-se a primeira vítima de violência policial na Colômbia desde o início dos protestos, no dia 21, e se junta a outras três mortes em tumultos naquele dia nas cidades de Buenaventura e Candelaria, no Departamento (Estado) de Valle del Cauca. Os protestos também deixaram cerca de 500 feridos, entre civis, policiais e militares, além de 172 detidos.

Reforma

Após uma reunião de duas horas com o Comitê Nacional de Greve, Duque anunciou que a proposta de reforma tributária será modificada para devolver o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) aos 20% mais pobres da Colômbia e reduzir as contribuições de aposentados que recebem salário mínimo – metade da população aposentada – de 12% para 4% durante três anos. Também haverá três dias por ano sem IVA.

As propostas custarão cerca de 3,2 trilhões de pesos (US$ 931 milhões), informou o governo. Para Gómez, os anúncios beneficiam os trabalhadores, mas não são suficientes. “Elas fazem parte de nossas reivindicações.”

Duque, cuja popularidade caiu drasticamente em seus 15 meses de governo, rejeita a acusação de apoiar planos de austeridade – entre eles uma redução do salário mínimo para os jovens -, citados como razões para a mobilização de muitos manifestantes.

As centrais de trabalhadores afirmam que o governo está preparando um pacote de reformas que causará forte impacto econômico e social sobre os trabalhadores, como a eliminação do fundo de pensão estatal Colpensiones, o aumento da idade de aposentadoria e a contratação de jovens com salários abaixo do mínimo, entre outras medidas.

Os manifestantes também criticam o que chamam de falta de ação do governo para deter o assassinato de centenas de ativistas dos direitos humanos e pediram a Duque que aplique em sua totalidade o acordo de paz firmado em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

“Queremos melhores condições para os trabalhadores e a garantia de que o governo vai cumprir os acordos fechados com diferentes setores da população, como os indígenas e o setor agropecuário”, afirma o presidente da CGT. (Fernanda Simas com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.