Foto: Lucimar do Carmo
Abilhoa: ?Ainda não conseguimos ver o animal, mas a pegada é prova de que ele já habitou ou já passou pelo local?.

A presença de um animal raramente encontrado em áreas urbanas foi identificada em uma área verde localizada dentro do bairro de Santa Felicidade, em Curitiba. Trata-se da lontra (Lutra longicaudis), cuja pegada foi visualizada por especialistas dentro da Reserva Cascatinha, considerada a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPNM) do Brasil.

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?A pegada da lontra é inconfundível, pois ela tem uma membrana entre as unhas que a ajuda a nadar. Ainda não conseguimos ver o animal na reserva, mas a pegada é prova de que ele já habitou ou já passou pelo local?, diz o biólogo do Museu de História Natural do Capão da Imbuia, pertencente à Prefeitura de Curitiba, Vinícius Abilhoa.

A lontra está nas listas de espécies ameaçadas de extinção no Estado, elaborada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), e no País, realizada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Considerada semi-aquática (vive na terra e na água), ela costuma habitar áreas florestais próximas a rios ou mesmo ao mar.

?A RPPNM Cascatinha é uma área de mata ciliar bastante preservada, por onde passa um afluente do Rio Cascatinha. Talvez por isso a lontra já tenha sido verificada por lá, pois ela gosta de locais com bastante vegetação onde possa de proteger. Além disso, por estar localizada em Santa Felicidade, a reserva está relativamente perto da Serra do Mar?, afirma Vinícius.

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Pertencente à ordem dos carnívoros, a lontra é um mamífero que pode se alimentar de peixes, crustáceos, anfíbios, pequenos mamíferos, insetos e aves, dependendo do local onde viva. Ela tem ocorrência no México, na América Central e na América do Sul. No Paraná, além da RPPNM, ela já teve sua presença identificada em cidades litorâneas, como Morretes, Paranaguá e Guaraqueçaba; em diversos pontos dos Rios Paranapanema e Paraná, e em áreas preservadas de Curitiba e Região Metropolitana, como nos municípios de Quatro Barras e Piraquara, nas proximidades da represa do Passaúna e do Rio Miringuava (situado na região sul da capital).

São dois os motivos que fizeram com que a espécie se tornasse ameaçada de extinção. O primeiro deles é a caça, que atualmente não é tão freqüente, mas que no passado teve grande influência sobre as populações de lontra. Antigamente, o animal era bastante capturado por seres humanos em função de sua pele. O segundo motivo é a destruição das áreas de mata ciliar.

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?As destruições de habitats naturais influenciam todas as espécies da fauna. As alterações ambientais fazem com que os animais enfrentem escassez de alimentos ou mudanças de hábitos alimentares e deixem de ter onde fazer suas tocas e se reproduzir?, finaliza o biólogo.

Outros exemplares habitam o lugar

Além da lontra, a RPPNM Cascatinha abriga outros exemplares de fauna. Foram identificados no local diversos animais terrestres e aquáticos. Só de aves, foi registrada a presença de cinqüenta espécies, sendo as mais comuns o joão-de-barro e o sabiá, normalmente encontrados em ambientes urbanos. Entre os pássaros mais exóticos, foi visualizada a gralha-azul, considerada símbolo do Paraná.

No que diz respeito a anfíbios, foram registradas duas espécies comuns. De peixes, foram vistos no córrego do Rio Cascatinha o acará e o barrigudinho. Já em relação a mamíferos, foram identificados, além da lontra, gambás, serelepes, morcegos, roedores e pegadas de tatu. Além disso, foram percebidos sinais da presença do ouriço-cacheiro, também tido como raro em ambientes urbanos. (CV)

Visitação começa só em 2009

A Reserva Cascatinha deve ser aberta à visitação do público em 2009. A área, que tem vinte mil metros quadrados de extensão, pertence ao engenheiro Eurico Borges dos Reis e a seu filho, o acadêmico de Direito Ricardo Borges dos Reis. Por iniciativa dos dois, foi transformada em área de preservação em 2004. No último mês de março, três meses depois de o prefeito de Curitiba, Beto Richa, aprovar uma lei criando as RPPNMs, foi oficialmente declarada a primeira reserva do tipo na capital.

Além de animais, o local abriga nascentes do Rio Cascatinha, que é um dos principais afluentes do Rio Barigüi, e diversas espécies de mata nativa, como pinheiro, cedro, peroba e canela. Ao transformar o espaço em RPPNM, os proprietários recebem incentivos fiscais e monetários. Entretanto, também se comprometem a cuidar da preservação do lugar.

Eles devem manter a área cercada, remover resíduos sólidos do córrego, enriquecer o bosque e permitir que a Secretaria Municipal do Meio Ambiente desenvolva atividades de educação ambiental no lugar. Além disso, podem criar programas voltados ao ecoturismo. ?A iniciativa é bastante positiva e pode ser replicada, sendo que pessoas de outros estados e mesmo de municípios da Região Metropolitana já têm se mostrado interessadas?, comenta Eurico. (CV)

Errata

Na última edição desta página, publicamos que o cachalote tem 23 metros de comprimento e as orcas têm cerca de 18 metros. O correto é afirmar que as orcas medem de 6 a 10 metros e o cachalote até 18 metros. Já o nome científico do golfinho-caldeirão é Tursiops truncatus.

As informações são da bióloga do Instituto de Pesquisa Cananéia, Gláucia Sasaki.