Símbolos culturais: as teias do encontro

O multiculturalismo presente e marcante na realidade brasileira nos obriga a uma reflexão aprofundada acerca dos temas silenciados na História da Educação. Quando nos referimos a temas silenciados aludimos aqueles conteúdos que margearam os currículos escolares, sem contudo integrá-los.

A pluralidade religiosa existente no mundo deve ser considerada. Não podemos mais sustentar um Ensino Religioso que corrobore com a imposição de uma religião sobre a outra, ou com desqualificação das crenças alheias, pois a experiência do pluralismo cultural que nos constitui, enquanto sociedade, é um apelo à descoberta e afirmação da própria identidade e do reconhecimento da identidade do outro.

Em todas as culturas encontramos a presença dos símbolos. Eles representam a maneira de funcionar da psique humana. A religião enquanto parte da cultura reflete a instância afetiva do humano e, portanto, estabelece regras norteadoras de comportamentos para a relação inter-humana e interespécies, configurando elementos culturais importantes.

A preocupação com a sustentabilidade do meio ambiente é também assunto que preocupa algumas tradições religiosas, espirituais, místicas e filosóficas existentes no mundo. A ligação com o Planeta e seus seres não é mais exclusividade da sensibilidade dos povos da floresta. Como tão bem afirma Leonardo Boff: ?A democracia precisa estender a personalidade jurídica a todos os seres, pois são sujeitos de direitos e devem ser respeitados em sua alteridade e convivência conosco?. Neste entendimento amplo e profundamente espiritual a cultura na pós-modernidade vai lançando mão de novos códigos simbólicos para a expressão da própria existência e garantir a sua continuidade.

O trabalho educativo se alicerça em códigos culturais específicos para a linguagem das diferentes áreas de conhecimento. O professor, formado por determinado sistema conceitual e simbólico de sua cultura e época, olha através da própria janela psíquica para as outras realidades, outros sistemas, e se encontra na justa medida de estar apto a observar aquilo que difere de si e constitui na verdadeira alteridade. Ou então, ao olhar pela janela de percepção, busca identificar padrões, faz juízos de valor a respeito do que vê e, deste modo, compreende o diverso na medida dos próprios códigos simbólicos internos. Neste momento a realidade pode lhe escapar pelo vão do julgamento.

O processo de formação profissional implica em ?metamorfoses?, em mudanças de postura e deseja-se que, quanto mais o indivíduo venha a conhecer, mais livre de preconceitos e favorável ao diálogo se torne. O referido processo de entendimento se fundamenta em dialogar com os códigos simbólicos da cultura que pretende conhecer, para só então decifrar-lhe os sentidos.

Convém lembrar que a biodiversidade também é encontrada nas diferenças religiosas, pois a diversidade da vida abrange comportamentos diferenciados, formas de conceber o mundo, estruturas de crenças, entre tantas outras variações. Dialogar com o universo íntimo é também dialogar com todo o macrocosmo. Assumir o processo significa fazer com que a cultura se construa com marcos de espiritualidade.

O olhar destituído de preconceitos lançado para as diferentes culturas pode favorecer a compreensão das significações simbólicas expressas nas diversas religiões e a compreensão das expressões religiosas pode conduzir a uma compreensão mais profunda da cultura. Em última instância, compreender o outro em sua diferença significa estabelecer formas de convívio pacífico e cooperativo entre todos. Quem sabe assim o conteúdo simbólico das palavras respeito e união se concretizem em ações coletivas para salvar toda a espécie de vida e formas de viver, em nosso Planeta.    

Para maiores informações sobre o Ensino Religioso consulte o site www.gper.com.br.

Retificação

1. O texto A droga, os preconceitos e a violência no País (II), publicado na edição anterior de O Estado Educa, tem como autor Maurízio Córdova.
2. As sugestões de leitura, alusivas ao texto citado acima são:
– A Sociedade de Consumo -Jean Baudrillard
– A Teoria da Cultura de Massa- Luiz Costa Lima
– Pedagogia do Oprimido- Paulo Freire
– Pedagogia da Autonomia- Paulo Freire

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