Sem descanso no estado de indignação

Agradeço polidamente ao desejo de ?bom descanso!? do vigia do estacionamento da universidade. É sexta-feira, a noite de trabalho chegou ao final, os ponteiros do relógio aproximam-se do encontro perfeito no alto do mostrador. Bom descanso não se refere apenas à sexta-feira, mas a todo o final de semana. E como é deliciosa a sensação de dois dias inteiros para vadiar!

Vadiar? Alto lá: sou uma professora e, como todos os meus colegas, ao final do dia, carrego na bagagem material de trabalho a ser feito em muito mais que 48 horas. Provas, pesquisas, relatórios e documentos a serem lidos, preenchidos, anotados, meditados…. Em casa, me aguarda a pilha crescente, que se avolumou rapidamente ao longo da semana: mais tarefas, mais afazeres.

?Bom descanso!?. Será que imaginei, ou era real um mal disfarçado sorriso de ironia no rosto do vigia? Sabe ele do tradicional trabalho transportado cotidianamente para a dupla (ou tripla) jornada doméstica? Sabe ele que descanso de professor é apenas discurso? Modo de falar? Etiqueta social? Cortesia?

Não se pode culpar o rapaz: ele cuida de carros, pessoas, rotinas. Nós, professores, de outro modo, vigiamos a aprendizagem dessas pessoas complexas e contraditórias, designadas pela ação de estudar. Esses estudantes serão nossa constante companhia no final de semana. Quando olharmos para os filhos, o marido/a esposa, o (a) namorado (a), nós os encontraremos a pairar fantasmáticos sobre (ou por trás) dos rostos queridos, a sinalizar em silêncio nosso dever e tarefas. Entre a salada e o feijão, lá estão eles, os alunos, de braços cruzados, a exigir com interrogações mudas que não os esqueçamos ao longo do tão ansiosamente aguardado final de semana.

Por causa deles sabemos que a poltrona convidativa será ocupada por outros, não por nós, mais necessitados de cadeiras duras, e boa dose de resignação. Quem sabe nas férias possamos sentar nela e ler um livro sem culpa? Nos finais de semana do período letivo, entretanto, as leituras são previsíveis: provas ilegíveis, trabalhos quase todos medíocres. O desejo de poltrona & livro fica mais uma vez adiado.

?Bom descanso!?. Neste último final de semana decidi que não adiaria mais o sonho, o conforto, o livro. Tranquei à chave os papéis, recalquei imagens fantasmáticas, enterrei o planejamento semanal das aulas na gaveta mais baixa e emperrada do armário da garagem. Tomei nas mãos, com um suspiro de expectativa e alegria, o exemplar que ganhei da amiga Eliana. Abri o volume, pulei a ?Introdução? (que lerei ao final) e iniciei a leitura de O professor refém: para pais e professores entenderem por que fracassa a educação no Brasil, de Tânia Zagury, recentemente publicado. O título me atrai por três motivos, sobre os quais projeto, de antemão, conhecimento, valores e expectativas: o contexto de refém, a parceria de pais e professores e a tristeza e dor intelectuais do verbo fracassa.

O livro se impõe passo a passo na argumentação irrefutável, nascida de uma base documental formada por 1.172 entrevistas com professores de todo o Brasil, e de uma pesquisa de três anos em busca do mapeamento, de explicações e respostas para o estado calamitoso da educação brasileira.

Não são poucos os exemplos e a lista de causas do estado de seqüestro do professor, sobre as quais o livro discorre e exemplifica. A lista inclui desde a formação profissional de má qualidade; as esperanças que se desfazem no curso da carreira profissional; a ânsia de atualizar-se, impedida pelo tempo, pelo salário, pelo desânimo; a submissão aos alunos, às famílias e à sociedade, que o discriminam, ofendem, desmotivam, e lhe retiram a ousadia, a garra, a criatividade.

Sem poupar o sofrimento que causa o toque em chaga aberta, a autora organiza as idéias em torno de um sentimento de indignação com o estado atual de deficiências de toda ordem que atingem a educação no Brasil. A indisciplina, as crenças equivocadas, a solidão do trabalho docente, as pressões de toda ordem exercidas pelas várias instâncias sociais, as falhas da formação universitária, a leitura e o conhecimento em grau mínimo. Fiel a seus livros anteriores, Tânia Zagury critica o sistema de ciclos, a indisciplina dos alunos (muitas vezes fruto da má educação recebida no ambiente familiar) e muito mais: a transformação da escola em uma instituição eclética, obrigada a tratar de aspectos como Cidadania, Ética, Meio Ambiente, Prevenção ao Uso de Drogas e Educação Sexual, entre outras, amputando por gangrena os objetivos primordiais de ensinar a ler, escrever e contar. Enquanto a escola supre as falhas de toda a sociedade, não cumpre as suas funções específicas.

O livro defende que, ao final da obrigatoriedade escolar, o aluno seja capaz de ?Ler compreensiva e analiticamente (condição básica para ser livre e responsável pelas suas decisões intelectuais, políticas e ideológicas)?. Mais ainda, deixa sem resposta as seguintes perguntas, retiradas do relatório de novembro de 2005, da Unesco, sobre analfabetismo: ?Que processo é esse que produz tantos analfabetos funcionais, leitores que não lêem, jovens que não sabem multiplicar, dividir, cantar o Hino Nacional, dizer onde fica Portugal etc? Melhoramos em quê??

A tarefa gigantesca e imprescindível de melhorar efetivamente a educação brasileira cabe a todos. Tânia Zagury cumpre a sua parte alertando, analisando, documentando. E a parcela que nos cabe?

Não descansei no último final de semana: trabalhei os dois dias na leitura de O professor refém, mas não me queixo. Foi leitura substanciosa sobre um assunto de carências, equívocos e fracasso. Tornou premente e mais intensa minha responsabilidade como professora na alteração do quadro educacional, mesmo que na área restrita de minha atuação. Foi descanso que trará mais trabalho. Ah, aquele sorriso de ironia… 

Escola, educadores e educandos: condutores do ensino religioso

Cláudia Regina Tavares Cardoso, Danise Cristiane Rios Araújo,Sérgio Rogério Azevedo Junqueira e Silvana Fortaleza dos Santos

Trabalhar a manifestação do transcendente nas escolas e introduzir as diferentes medidas do conhecimento religioso é um dos desafios dos educadores, juntamente com os diversos grupos sociais. Ocorre que os professores exercem um papel decisivo neste processo, pois o ?como fazer? está intimamente ligado a sua formação como educador e no que acredita. No mundo atual, pluralista, ?os membros da comunidade educativa precisam aproveitar as oportunidades de educação continuada e do desenvolvimento pessoal permanente, especialmente na competência profissional, nas técnicas pedagógicas e na formação espiritual? (Características: 152, 1987, p. 49). No âmbito da formação espiritual cabe ao educador permitir e auxiliar o aluno a buscar a livre opção religiosa. O mestre-mediador do ensino religioso aponta as inúmeras tradições religiosas existentes na sociedade em que se está inserido. É esse profissional, na função de mediador que, lançando mão de procedimentos didáticos na construção pedagógica, religa o educando ao transcendente. Dessa maneira, conforme Junqueira (2002), o ensino religioso está em eqüidade com a ?função própria da escola, que é chamada a favorecer os alunos a uma atitude de confronto, ao diálogo e à convivência democrática? (Junqueira, 2002, p. 94). Acredita-se que é intrínseco à criança um desejo de se relacionar com o transcendente, pois faz parte de sua formação cultural e personalidade individual conectada ao imanente. É ainda sob esse clima que o Ensino Religioso encontra espaço para levar o aluno a refletir sobre o sentido da sua vida e a assumir um compromisso responsável de transformação da realidade segundo os valores religiosos, por meio de escolhas livres e coerentes.

Cabe ao educando, orientado pelo processo de aprendizagem, que por sua vez é gradual, escolher o caminho a trilhar. Dessa maneira, percebe a própria realidade, compreendendo e formando identidade religiosa própria e respeitando a opção religiosa do outro, ou dos demais grupos sociais.

A instituição Escola manuseia o conhecimento a partir do fenômeno religioso. Já a comunidade religiosa onde a criança está inserida desenvolve o aprofundamento da fé, o credo, enfatizando a doutrina em que se crê, procurando estimular na criança os valores associados à mesma. Aqui, vale ressaltar: a tradição religiosa é o conhecimento transmitido pelas instituições religiosas.

Sendo assim, a escola desenvolve os saberes compostos por uma diversidade cultural religiosa, uma vez que está diante de inúmeras crianças com as mais variadas informações e formações. Reforçando sempre o diálogo enquanto procedimento fundamental nesse processo religioso-cultural diversificado, buscando e valorizando o respeito por si próprio e pelo próximo. É a valorização do ethos, como bem expôs Longhi (2004), que, fundamentado em Küng (1999), definiu a simbologia da expressão para a sociedade atual: ?(…) alguma coisa que é aceita como válida, e pela qual também outras coisas se orientam, tornando-se assim princípio orientador (…) (Longhi, 2004, p. 47).

Reforçar os princípios comportamentais das próximas gerações é permitir ?que o educando descubra a sua própria formação religiosa?, conforme o defende o professor Vicente Bohne, da Universidade São Francisco, São Paulo (Fonaper, 2001). Essa descoberta se processa, cada vez mais, de maneira crítica, consciente, gradual e responsável.

Portanto, completamente inserido na diversidade cultural, o mundo da educação, mais especificamente as escolas, pode oferecer aos educandos o conhecimento a respeito dos diversos caminhos que ligam as pessoas ao transcendente. Assim, o Ensino Religioso nas escolas tem como função corresponder às exigências da educação do século XXI, na parte que lhe cabe o conhecimento religioso inserido na multiplicidade de comportamentos e modos com que convivemos em nossos dias.

Para maiores informações conheça o site www.gper.com.br.

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