Satisfação com qualidade de vida é maior na América Latina

Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgado nesta terça-feira (18), traz resultados “paradoxais” sobre a percepção de qualidade de vida na região da América Latina e Caribe. A população de países com renda per capita menor se diz mais satisfeita com a qualidade de vida do que a de renda mais elevada. Outros mostram-se satisfeitos com a educação que recebem, mas as medidas internacionais indicam que estes estudantes têm desempenho inferior em relação aos na Ásia e Europa, por exemplo.

“Os indivíduos com nível de escolaridade maior têm opiniões mais críticas sobre o sistema de educação de seus próprios países”, apontou o estudo, indicando qual é a raiz do paradoxo. Em especial, “os latino-americanos são mais satisfeitos com a própria educação do que seria esperado”, analisou o BID.

O estudo usa como ilustração o exemplo do Chile, que é um dos países mais prósperos da América Latina e Caribe, mas cuja população mostra um grau de satisfação com a qualidade de vida inferior ao dos habitantes de 10 países com renda per capita menor, como Guatemala, Venezuela e Brasil.

Segundo o documento, o Brasil teve um crescimento médio de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, no período de 2001 a 2006 – o que se traduz em um valor de US$ 7.475 em poder de paridade de compra (PPP) para 2000. Na pesquisa, a população brasileira se vê no ponto 6,2, em uma escala de satisfação que vai de zero a 10. O chileno, por sua vez, que teve um crescimento médio de 3,1% do PIB per capita, ou US$ 10.700 em PPP, se avalia em 5,8 na mesma escala.

Ainda de acordo com o estudo, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Honduras e República Dominicana, por exemplo, declararam níveis de satisfação com educação mais elevados que os apontados no Japão, embora os alunos desses países tenham apresentado pontuações em provas de desempenho escolar 35% mais baixas, em média, do que os alunos japoneses.

Sobre o mercado de trabalho, o relatório também mostra que 82% das pessoas da região estão satisfeitas com seu emprego, mais do que os trabalhadores de países com alta renda per capita como Japão e Coréia do Sul, onde 78% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com seu trabalho. “A satisfação é alta apesar de um quarto da população da região não ganhar o suficiente para sair da pobreza e do aumento na proporção de pessoas que trabalham na informalidade”, disse o documento do BID.

A pesquisa conduzida com 40 mil pessoas em 24 países da América Latina e Caribe, que inclui dados da organização Gallup e coletada entre novembro de 2005 e dezembro de 2007, indica que a percepção sobre a qualidade de vida não “é o simples resultado de condições objetivas”. A pesquisa mostra que depende do valor que cada indivíduo atribui para partes de seu cotidiano. “Se o aumento na renda significa sacrificar saúde ou vida familiar, o resultado pode ser uma qualidade de vida menor”, exemplificou o estudo do BID.