“Quarto do pânico” é real

Em tempos de segurança mínima as pessoas estão apelando para a blindagem doméstica, criando espaços dentro das casas para se proteger mesmo que os bandidos consigam entrar.

Uma casa de mil metros quadrados que está sendo construída num condomínio fechado, perto de um dos parques mais bonitos de Curitiba, tem a marca desses tempos de violência: um cômodo de segurança máxima. E compará-lo ao quarto do pânico, do filme estrelado por Jodie Foster, em 2002, não é exagero.

Com a entrada escondida por uma armário pesado, ninguém imaginaria que ali há um quarto. Ou melhor, uma célula de sobrevivência com banheiro, telefone independente e paredes reforçadas para isolar e proteger a família enquanto a polícia não chega.

?Esse não é o primeiro?, afirma o arquiteto da casa, José Lopes, da Dória, Lopes, Fiuza Arquitetos Associados, uma das maiores empresas de arquitetura do Brasil com escritórios em São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Não é possível precisar quantos quartos de segurança máxima já existem na cidade, mas segundo o profissional a preocupação com a segurança aumentou muito nos últimos dois anos e influencia os projetos.

?Essas medidas de proteção vão aumentar na mesma proporção em que aumenta a violência nas cidades e as pessoas assistem cenas de terror real como o que aconteceu em São Paulo. Há cinco anos atrás ninguém falava em construir um quarto de segurança num condomínio fechado, com monitoramento e alarme. Hoje isso já é realidade?, analisa Lopes.

O sócio dele, Waldeny Fiuza, concorda e conta que só nesse ano recebeu três pedidos de reforma de portaria de prédio. ?Não havia nada de errado com a entrada deles. Eram bonitas, mas os moradores queriam mais segurança e por isso abriram mão da beleza do jardim para colocar grades, guarita com vidro blindado e cercas eletrônicas?, explica.

Segundo Fiuza, reformas para dificultar a entrada de pessoas estranhas em prédios estão cada vez mais comuns, mas nem sempre garantem a segurança dos moradores. O risco sempre existirá, até porque na maioria das vezes quem controla o portão é um porteiro que não foi treinado.

Sabendo disso, os moradores de apartamento também estão tomando providências. ?Eu acabei de terminar o projeto de seis portas blindadas para um apartamento. A proprietária se sentia insegura e achou que essa era uma solução?, contou o arquiteto.

Segundo os arquitetos, nenhum dos clientes que contrataram os serviços do escritório relataram ter passado por alguma situação de risco. ?A gente percebe que as pessoas estão com medo, mas ninguém contou ter sido assaltada. Elas estão pensando no futuro e investindo em prevenção?, diz Fiuza.

Chris Beller

Vigilantes ilegais são um risco

No Paraná a maioria das empresas de vigilância é ilegal. São 67 empresas legais e 103 atuando sem registro no Ministério da Justiça ou na Polícia Federal, responsável pela fiscalização.

De acordo com a advogada das empresas de segurança, Celita Oliveira de Souza, com o pagamento de taxas, as empresas repassam à PF cerca de R$ 30 milhões por ano. O sindicato do setor informou que há 45 mil vigilantes trabalhando sem habilitação.

No País, o setor fatura R$ 11 bilhões por ano e a estimativa é que para cada empresa regularizada, existem três clandestinas. A proliferação de empresas ilegais já foi tema de uma audiência pública em Curitiba e promessa de mais rigor na fiscalização por parte do superintendente da Polícia Federal no Estado, Jaber Saadi.

Contratar empresas ilegais pode colocar em risco o patrimônio e a vida de quem paga para ter proteção. Em 2003, três adolescentes morreram pisoteados num show no Jockey Club de Curitiba. A empresa que fez a segurança era clandestina.

A atividade

Segurança privada inclui vigilância patrimonial, segurança pessoal armada, transporte de valores, escolta armada e escola de formação de vigilantes. A atividade é regulamentada por uma lei de 1983. As empresas de segurança particular só podem atuar depois de receber uma autorização do Ministério da Justiça.

A fiscalização é responsabilidade da Polícia Federal. Os vigilantes precisam fazer um curso de formação, de 120 horas, aprendendo técnicas de defesa pessoal, primeiros socorros, armamentos e como atirar.

Para entrar no curso o candidato precisa comprovar que está apto em exame de saúde física e mental e não pode ter antecedentes criminais.

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