Eu estava viajando de retorno do Teresina, no Piauí, onde fui fazer uma palestra a convite da universidade local e no avião apanhei a revista “Ícaro” produzida para leitura a bordo dos vôos da Varig. A publicação apresenta sempre um artigo sobre problemas de avião, sob o título “Entenda seu vôo”, assinado pelo editor de aviação Ernesto Klotzel.

Nessa edição o trabalho se intitulava “Em perfeito equilíbrio”, acompanhado de um desenho técnico no qual estava explicado para o passageiro, como é que o peso, atuando sobre o centro de gravidade, mantém o avião equilibrado em pleno ar. Pouco afeito à matéria, procurei ler com atenção. Dizia o seguinte: “Um avião só é capaz de voar horas e horas em absoluta estabilidade porque as quatro forças que o mantém se contrapõem em perfeito equilíbrio. No eixo vertical é o peso total da aeronave que é equilibrado pela sustentação proporcionada pelas asas. No plano horizontal é a força das turbinas que precisa vencer a resistência do ar ao deslocamento do próprio avião.

O peso total, composto pela soma do avião vazio, do combustível, dos passageiros e da carga, e concentrado no centro de gravidade, é neutralizado pela sustentação total proporcionada pelas asas, gerada pelo ar que circula sobre e sob elas. Cerca de dois terços vêm da parte superior, onde se cria uma pressão menor. Assim como o peso se concentra no centro de gravidade, a sustentação tem seu ponto de aplicação no centro da pressão.

O centro de gravidade fica à frente do centro de pressão, o que normalmente faria a frente do avião baixar. Mas aí entra o efeito de equilíbrio estabilizador, na parte traseira da aeronave, que dá uma sustentação negativa, fazendo a parte traseira da aeronave baixar.

Com essas forças em equilíbrio, o avião como que voa sozinho, mantendo a mesma altitude, sem aumentar ou diminuir a velocidade. O equilíbrio só é alterado momentaneamente para a realização de alguma manobra, como uma curva, por exemplo. Existe apenas uma exceção que confirma a regra da estabilidade do vôo: a correção exigida pela constante movimentação dos passageiros e comissários ao longo dos corredores, deslocando o peso total do avião para a frente e para trás do centro de gravidade normal. É novamente da cauda que vem a correção automática e contínua.

E assim o vôo prossegue sereno, estável, com todas as forças harmoniosamente equilibradas.

Confesso que a leitura não me fez bem. Quando terminei olhei para cima, para frente, para o lado e para a janela, sem conseguir acreditar que todos os fatores necessários para manter a aeronave equilibrada no ar estivessem presentes.

Na verdade, passei a sentir medo e a torcer para chegar o mais rapidamente possível, antes que um pequeno desequilíbrio pudesse causar problema sério. Será que Santos Dumont tinha noção de todos esses pontos de equilíbrio?

P.S. – “A vida é uma viagem, o pensamento o itinerário”. (Victor Hugo, escritor francês falecido em 1885)

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