Pesquisar é solução para impasse dos transgênicos

Pesquisar, pesquisar e pesquisar. Com base nesse caminho, os cientistas brasileiros ligados ao melhoramento genético defendem a desburocratização das pesquisas com os transgênicos, os organismos geneticamente modificados.

Trata-se de tecnologia que pode ser empregada em várias culturas, apesar de a soja ser a grande vedete do momento, ainda mais depois que o governo federal, por intermédio de uma medida provisória, resolveu liberar o plantio de sementes modificadas geneticamente.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu, nos últimos anos, linhas de pesquisas com transgênicos em várias frentes. Seja para a soja, milho, batata, feijão ou até mamão, a transferência de alguns genes poderá trazer benefícios importantes para produtores e consumidores.

Exatamente por ter cumprido a lei nos últimos anos é que os cientistas ainda não tiveram como trocar o tempo do verbo, do condicional para o afirmativo. A Embrapa e outros centros de pesquisa não conseguiram avançar muito com as pesquisas de campo, exatamente por causa dos entraves burocráticos.

Durante o Congresso Nacional de Genética, encerrado no último dia 19 em Águas de Lindóia (SP), a maioria dos geneticistas presentes defendeu a flexibilização para que se possa estudar melhor e mais rápido os transgênicos não apenas para a soja. “No Brasil existe um grande atraso no caso das pesquisas com transgênicos”, disse Ernesto Paterniani, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo.

A Embrapa colocou sua posição em nota oficial. “O que se busca é o princípio da precaução. É preciso que se garanta que a liberação do organismo transgênico não traga efeitos negativos à saúde humana e ao meio ambiente. Não se libera um organismo para uso generalizado, enquanto não se tenha informações que garantam a sua biossegurança”, disse o comunicado.

Também presente no Congresso Nacional de Genética, Rubens Nodari, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e hoje no Ministério do Meio Ambiente (MMA), concordou em parte com a posição oficial da Embrapa. “Não somos em hipótese alguma contrários à tecnologia”, disse ele. “O que precisamos é de estudos que garantam a segurança ao meio ambiente”. Nodari, que também recorreu ao princípio da precaução para defender a cautela que pautou as decisões do MMA até agora, lembrou os eventuais problemas que os transgênicos poderão causar ao meio ambiente, como a contaminação de outras populações.

O fato de até hoje não ter ocorrido nenhum problema com o consumo de alimentos transgênicos onde tais produtos estão liberados, como nos Estados Unidos, não é considerado prova de segurança total. Nodari lembrou, por exemplo, do caso do gás CFC. Apenas vários anos depois que a substância passou a ser empregada é que se descobriu que ela agredia, e bastante, o meio ambiente. (Agência Fapesp)

Problemas ambientais na Grã-Bretanha

Duas das três plantações experimentais autorizadas pelo governo da Grã-Bretanha de organismos geneticamente modificados, conhecidos como transgênicos – semente de uva para óleo e beterraba para fabricação de açúcar – são mais danosas ao meio ambiente do que as culturas tradicionais e deveriam ser proibidas no país, de acordo com um relatório de cientistas britânicos que vazou para a imprensa e foi publicado na quinta-feira pelo jornal The Guardian.

Segundo o documento, que deverá ser divulgado oficialmente na próxima semana, o cultivo em massa de sementes de uva e de beterraba transgênicas poderia destruir plantas e insetos. As descobertas são um sério revés para os que defendem os transgênicos no país e na Europa, reabrindo o acirrado debate em torno de alimentos geneticamente modificados. A terceira plantação experimental, de milho transgênico, permitiria a sobrevivência de mais ervas daninhas e insetos e deveria ser aprovada, embora os cientistas ainda manifestem preocupações sobre o assunto, disse o jornal.

Os resultados de três anos do teste em larga escala, o maior experimento científico com cultivos de transgênicos feito até hoje em todo o mundo, serão publicados na revista Philosophical Transactions, da Sociedade Real britânica. Guardados em segredo há meses, os resultados serão estudados por cientistas, agricultores, indústrias alimentícias e governos em todo o mundo.

Voltar ao topo