Para Khatami, julgamento de manifestantes no Irã é farsa

O ex-presidente do Irã, Mohammad Khatami, afirmou que o julgamento de 100 pessoas envolvidas em manifestações contra o resultado das eleições presidenciais do país é uma farsa que pode deteriorar a confiança nas decisões tomadas pelos governos islâmicos. Khatami, que conduziu o país entre os anos de 1997 e 2005, criticou o tribunal por não permitir que os advogados de defesa tivessem acesso à sala de audiência nem aos arquivos do caso. “Até onde eu sei, o que aconteceu no julgamento foi contrário à constituição e à lei, assim como aos direitos dos cidadãos”, disse Khatami.

Em vez de um “julgamento-espetáculo”, o público esperava que o governo “confrontasse os problemas e as tragédias que aconteceram em alguns centros de detenção e aparentemente levaram a assassinatos”, acrescentou. Khatami disse esperar que o julgamento, iniciado ontem, não “levasse à ignorância dos crimes reais” cometidos pelas autoridades após a eleição de 12 de junho, entre eles supostos abusos e assassinatos de prisioneiros.

A oposição do Irã tenta aproveitar a crítica crescente tanto entre conservadores quanto reformistas sobre a opressão de centenas de milhares de pessoas que foram às ruas após a eleição para protestar contra a vitória do presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad.

Pelo menos 20 pessoas foram mortas durante os protestos, embora ativistas de grupos de direitos humanos acreditem que o número seja muito maior e que pelo menos um dos manifestantes morreu enquanto estava na prisão.

O julgamento em massa é parte de um esforço do governo para sufocar protestos e tem como alvo alguns dos principais defensores de Mir Hossein Mousavi, líder da oposição que afirma ter sido o verdadeiro vencedor da eleição presidencial. Entre os réus, estão alguns reformistas conhecidos, incluindo o vice-presidente da administração Khatami, Mohammad Ali Abtahi.

A imprensa estatal afirmou que Abtahi e outros confessaram ter trabalhado em conjunto para incentivar o descontentamento popular. Mas, segundo grupos de direitos humanos, as confissões podem ter sido obtidas após coação.

Alguns conservadores juntaram-se ao coro dos reformistas na crítica da ação violenta do governo contra os manifestantes após a morte do filho de Abdolhossein Rouhalamini, um dos principais aliados do Mohsen Rezai, partido conservador que disputou contra Ahmadinejad na eleição. O filho de Rouhalamini foi preso durante um protesto em 9 de julho e levado para um hospital duas semanas depois, morrendo em seguida. Segundo o website Norooz, o rosto de Mohsen tinha marcas de agressão quando o corpo foi entregue ao pai.

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