Ora, vá!

Moro em uma rua central. Fazia dias que o gari não aparecia para varrer a calçada. Cansada de esperar e enojada com aquela sujeira toda, decidi eu mesma varrer. Um conhecido passou e me falou que eu estava certa, pois estava exercendo o meu direito de cidadania!

Pouco depois um garoto parou e, me encarando, pediu uma moeda e eu o mandei à merda! Puxa, ele levou um susto muito grande, pois uma senhora idosa não deveria usar estas palavras. E, então continuei: Se você tivesse se oferecido para varrer, me ajudar, eu daria um bom café e mais uma moeda. Mas como você só quer uma moeda, então digo novamente, vá à merda!

Tempos depois, ao atravessar a rua (é, aqui no centro mesmo), percebi um homem caído na calçada. Preocupada, me aproximei, outras duas mulheres também chegaram, fizemos uma rodinha, uma delas entrou na farmácia, logo ali, para pedir ajuda. Um balconista se aproximou, conseguiu acordar o homem desmaiado, que sussurrou alguma coisa. O rapaz se afastou sem dizer nada. Pedi ajuda a um passante que também escutou os sussurros, e me falou que era FOME! Voltei nos passos, entrei no pequeno restaurante e pedi um prato de comida. Outra pessoa ajudou-o a sentar e, entregando o prato com a comida quente, me afastei em seguida, enquanto ele comia afobado.

Margarita Wasserman escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do PR.

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