Oposição pressiona Macri com índice de inflação usado contra kirchnerismo

A inflação argentina, reconhecida pelo governo de Mauricio Macri como o maior desafio a sua estabilidade, foi de 29,9% nos últimos 12 meses. O número obtido a partir de levantamento de sete consultoras foi divulgado na tarde desta segunda-feira, 15, por deputados de oposição moderada, após dois meses de trégua com a nova administração.

O Parlamento argentino difunde um índice paralelo de aumento de preços desde que os dados oficiais deixaram de ser confiáveis, no governo de Cristina Kirchner. Ela admitia inflação de 15% por ano, enquanto os mesmos institutos privados a calculavam em 25%. O IPC Congresso foi a forma encontrada pelos antikirchneristas de expor os números sem que as consultorias fossem multadas, sob acusação de Cristina de tentar desestabilizar o país. O kirchnerismo, que sempre contestou o dado não-oficial, não participou de sua primeira divulgação após três meses.

O salto nas remarcações (9,9% no último trimestre) começou antes mesmo de Macri cumprir a promessa de liberar em dezembro a compra e venda de dólares, limitada pelo kirchnerismo em 2011. A medida levou a uma desvalorização de 30% no peso, que o governo considerava necessária para recuperar competitividade nas exportações. A alta no dólar disparou preços principalmente de alimentos e bebidas (13% no trimestre).

O ministro da Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay, reconheceu no mês passado o controle dos preços como a principal dificuldade do governo. No início de fevereiro, sustentou que janeiro tinha apresentado um índice menor que o de dezembro. Sua declaração foi desmentida pelo indicador oficial da capital, Buenos Aires, de 4,1% de inflação no primeiro mês do ano.

Segundo os dados divulgados ontem, a média do reajuste no país foi de 2,2% em novembro, 3,8% em dezembro e 3,6% em janeiro. Participaram da divulgação da informação dois ex-candidatos presidenciais que prometem apoiar a base de Macri nas principais votações no Congresso, os deputados Margarita Stolbizer e Sergio Massa.

“Não podemos definir uma estratégica pública sem dados transparentes. Quem vai ao açougue não compra o que comprava no mês passado”, disse Stolbizer. A carne, produto básico na alimentação argentina, foi um dos itens que mais aumentou, 27% no trimestre. Outros parlamentares ressaltaram que o país precisa de um dado oficial antes de março, quando ocorre a renegociação salarial por categorias.

A Casa Rosada colocou uma meta de inflação para 2016 de 25% e tenta estabelecer esse número como teto para os aumentos salariais. Os sindicatos esperam pelo menos 32% e projetam greves gerais como forma de pressão. “Quanto tempo dura o governo sairmos à rua?”, ameaçou no domingo o líder sindical Luis Barrionuevo.

“Tomara que em pouco temos deixemos de dar esse índice. Antes era um Estado que manipulava as cifras e agora não deixa claro no está trabalhando”, criticou Alicia Ciciliani, deputada do Partido Socialista, ao lado de Stolbizer e Massa.

O governo sentiu a pressão dos potenciais aliados em votações importantes no Congresso. Horas após a divulgação do índice de inflação, caiu a número 2 do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), Graciela Bevacqua. Sua presença era simbólica porque ela tinha sido demitida pelo kirchnerismo, no que foi considerado o primeiro sinal de intervenção de Cristina no organismo. Ao retornar com Macri, ela defendeu a divulgação do primeiro dado oficial em seis meses. Ontem, o governo recuou e prometeu reduzir esse prazo para dois meses. (Rodrigo Cavalheiro)

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