Silvio Berlusconi estava ciente do seqüestro ilegal do imã egípcio Abu Omar, ocorrido em 17 de fevereiro de 2003. É o que afirma o próprio sacerdote muçulmano de Milão, raptado na Itália por agentes norte-americanos da CIA e torturado por mais de um ano no Egito, segundo sua defesa.

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A operação ilegal da Agência Central de Inteligência em território italiano estava relacionada à guerra do Iraque e à luta antiterrorista, e foi autorizada pelo próprio presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Com ajuda da agência de inteligência italiana, a CIA espionou, seqüestrou e interrogou, supostamente sob tortura, o sacerdote egípcio Abu Omar, residente legal na Itália e acusado de envolvimento com o terrorismo.

"Com certeza Berlusconi sabia (da operação), (…) porque era uma questão de soberania para a Itália", disse o imã de Milão, desde sua casa em Alexandria (Egito). Após o seqüestro em plena luz do dia, Abu Omar foi conduzido à base militar norte-americana de Aviano (no norte do Itália), onde afirma ter sido torturado. Depois foi encaminhado a seu país natal para novos interrogatórios.

Nesta quarta-feira (14), o juiz Oscar Magi, de Milão, decidirá se aceita o testemunho do ex-premier italiano Romano Prodi e do atual premier Silvio Berlusconi — que era chefe do governo italiano na época dos fatos investigados.

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A participação de ambos os políticos foi solicitada pelo advogado de defesa de Nicola Pollari, ex-dirigente dos serviços secretos italianos e acusado de seqüestrar Omar junto a pelo menos três altos funcionários italianos e mais 26 cidadãos norte-americanos, ex-agentes da Cia.

"Fui torturado por 14 meses e meio", lembra o sacerdote muçulmano, que vê com receio seu futuro no Egito, país que agora pretende abandonar. Omar também informa que vai pedir ao governo da Itália um "ressarcimento generoso" para compensar todos os danos e torturas sofridas durante a operação executada sob os governos de Bush e Berlusconi.

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O processo judicial é o primeiro que se realiza na Europa contra a atividade dos serviços secretos dos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro. Se for confirmado o pedido de testemunho para Berlusconi, ele será o primeiro premier italiano a sentar-se diante da Justiça para versar sobre a atuação ilegal da CIA na luta antiterrorista.