Militares do Egito querem preservar império

Cairo, 27 – Um improvável traço em comum une do estádio de futebol quase pronto na periferia do Cairo a postos de gasolina por todo Egito, de fábricas de TV de tela plana à comissão que controla a atual eleição presidencial: todos estão nas mãos dos militares egípcios. Os generais governam o país há 60 anos e, por meio de conglomerados nebulosos, estima-se que dominam de 10% a 40% do PIB nacional, de US$ 180 bilhões. Com o Egito cada vez mais perto de um governo civil, escolhido democraticamente, o lugar que as Forças Armadas ocuparão daqui para a frente é uma das principais incógnitas da política egípcia.

A atividade das empresas militares no Egito é segredo de Estado e jornalistas podem ir para a cadeia se investigarem o assunto. Não há dados confiáveis e analistas duvidam que, mesmo dentro das Forças Armadas, exista um controle centralizado dos negócios. O estádio no Cairo, por exemplo, é da Força Aérea; a fábrica de TV, do Exército.

“A Constituição da era Hosni Mubarak não definia o papel dos militares porque eles eram o poder. Não existia, portanto, essa questão. Agora, será preciso codificar em leis as atribuições das Forças Armadas”, disse Nabil Fahmy, cientista político da Universidade Americana do Cairo. “Sem dúvida isso envolverá um jogo de poder.”

Nos bastidores, ativistas e deputados eleitos no fim do ano passado reconhecem que, muito provavelmente, os generais conseguirão “se blindar” na próxima Constituição. O orçamento da Defesa deve ficar praticamente fechado à supervisão civil, incluindo as empresas militares, e os oficiais continuarão a dominar temas de “segurança nacional”, como os acordos de paz com Israel e a estreita cooperação militar com os EUA, que enviam US$1,3 bilhão em ajuda anual às forças egípcias. A Arábia Saudita doa mais US$ 1 bilhão por ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (Roberto Simon, enviado especial)

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