Manifestantes tomam outro campo petrolífero na Bolívia

Oposicionistas tomaram na madrugada desta quarta-feira (10) o controle de outro campo petrolífero que abastece regiões do oeste da Bolívia .O país vive um clima de tensão crescente por causa da polarização entre lideranças regionais e o governo do presidente Evo Morales. A prefeita Alejandría Vacaflor, de Boyuibe, a sudeste de La Paz, afirmou que foi testemunha da tomada do campo petrolífero. Ela relatou à emissora católica Fides que líderes cívicos “tomaram pacificamente” o campo Vuelta Grande, operado pela empresa nacionalizada Chaco, do Grupo BP.

Uma parte da produção desse campo é destinada à Argentina, que compra uma média de dois milhões de metros cúbicos de gás por dia. Ontem, outro grupo interveio no campo Tahiati e fechou as válvulas. A instalação fica perto de Villamontes, fronteiriça com Paraguai, de onde se bombeia parte do gás comprado pelo Brasil. Mas o governo e a empresa Transierra, que opera o campo, asseguraram que não foi interrompido o fluxo para o Brasil. O País compra uma média de 30 milhões de metros cúbicos diários dos bolivianos.

O ministro de Hidrocarbonetos, Saúl Avalos, confirmou o “fechamento das válvulas”, mas assegurou que “as exportações de gás para o Brasil, a Argentina e o mercado interno estão garantidas”. Avalos disse que a retomada dessas válvulas “pode demorar alguns minutos, algumas horas”, mas não indicou em quais pontos houve intervenção dos oposicionistas.

O governo central descartou declarar estado de sítio em regiões lideradas por prefeitos (governadores) da oposição. Além disso, denunciou os distúrbios em Santa Cruz como o “início de um golpe de estado” realizado por lideranças cívicas e dos governos estaduais, nas palavras do ministro de Interior, Alfredo Rada, na noite desta terça-feira (9).

Rada acusou o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, e o líder cívico Branco Marincovik de promoverem uma “violência fascista com o objetivo de acabar com a democracia”. “O sucedido em Santa Cruz é conseqüência do terrorismo de estado que exerce o governo de sua cegueira que impede reconhecer o direito dos povos à autonomia”, afirmou. Rada conversou com jornalistas depois de uma longa reunião de Evo com seus ministros e o comando do Exército, para avaliar a violência ocorrida nas ruas de Santa Cruz.

Saques

Grupos de choque saquearam novamente nesta quarta os escritórios da Empresa Nacional de Telecomunicações, em Santa Cruz, leste do país. Ontem houve bastante violência em San Cruz, principal bastião da oposição a Morales, com mais de 10 feridos. O ministro da Presidência, Joan Ramón Quintana, assegurou hoje que o governo não utilizará os militares para reprimir os protestos. O governo teme que isso possa provocar mortes e a oposição culpe Evo por isso.

Os protestos duram duas semanas em Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija. Os oposicionistas pedem a devolução de um fundo que o governo descontou das regiões para pagar um bônus aos idosos. Outros pontos de discórdia são a reforma constitucional apoiada pelo presidente, que propõe entre outros temas a reeleição, e a demanda das regiões por mais autonomia.