Mais que exercício, filosofia de vida

Yôga não é mais uma palavra estranha para os brasileiros. Pode ser encontrada em revistas, jornais, programas de televisão, folders e placas de locais que oferecem aulas. A visão de muitos, porém, ainda está ligada aos benefícios físicos da prática do yôga. Mas isso é uma conseqüência, segundo especialistas, de uma filosofia de vida. Estima-se que cinco milhões de pessoas pratiquem yôga no Brasil.

Yôga existe há mais de cinco mil anos e quer dizer "união" em sânscrito, uma língua morta da Índia. Significa união do homem com o universo, com a natureza e com ele mesmo. O objetivo é promover o autoconhecimento do ser humano.

Nos últimos tempos, o yôga sofreu um grande crescimento no número de praticantes. Segundo a presidente da Federação de Yôga do Paraná, Maria Helena de Aguiar, a escala de ascendência começou em 1997 nos Estados Unidos, país que hoje possui 15 milhões de seguidores. O Brasil absorveu essa tendência, que está associada à procura pela qualidade de vida. "O yôga não virou moda. Tornou-se uma necessidade das pessoas, que despertaram para isso. É resultado de um movimento cultural", afirma.

Maria Helena explica que, quando começou a atuar na área, há 33 anos, os interessados procuravam o yôga pelo misticismo. Uma década depois, as pessoas passaram a procurar por causa da saúde. "As pessoas procuravam para se acalmar, mas o yôga está ligado à força, à energia. Ainda existe a visão do benefício físico, mas isso mudou muito. Hoje já nos procuram pelo autoconhecimento, por uma evolução. E, por conta disso, os benefícios físicos acontecem, mas não são a nossa meta. Isso ocorre, mesmo que você não queira", diz.

Devido à procura, vem crescendo o número de cursos e aulas de yôga, inclusive em academias de ginástica. Prova disso é a grande demanda na formação profissional de instrutores e professores, conta Rogério Brant, diretor da Universidade de Yôga – unidade Alto da XV. No caso dele, que trabalha com o Swásthya Yôga (ou yôga antigo), a demanda de pessoas interessadas na formação profissional supera aqueles que desejam apenas fazer aulas.

Brant acredita que as aulas de yôga em academias são válidas, mas quem quiser se aprofundar na filosofia pode procurar um curso mais específico. A professora de yôga Tereza de Alcântara avalia que a prática em academias é vista mais como uma atividade física. "Não é nada transformador, pois não está voltada para a filosofia. O yôga em academia foge um pouco de suas raízes. Quem vai, procura mais o trabalho físico", opina.

Para Tereza, todo mundo está apto para começar, pois existem várias linhas que trabalham de maneira diferenciada, atendendo todas as preferências. Maria Helena, da Federação de Yôga do Paraná, ressalta que há espaço hoje para todos os ramos da prática. "A expansão é um sinal da melhora do próprio ser humano, que percebe a evolução em todos os aspectos. É uma tendência cada vez maior buscar este autoconhecimento", comenta. Opinião semelhante tem a pós-graduada em yôga e professora de yôga geral das Faculdades Integradas Espíritas, Karin Tatiana Dietrichkeit: "Não importa por qual motivo ou mesmo que não busquem a iluminação. É importante que entrem em contato com a técnica. Quando vêem que mudou suas vidas, buscam o aprofundamento na filosofia. Sou a favor de yôga em qualquer lugar".

O yôga pode ser praticado por pessoas de qualquer idade. Porém, o público mais interessado na filosofia é jovem. Maria Helena avalia que o yôga acaba desempenhando um papel social em função disso. "O yôga, enquanto filosofia, possui uma alimentação que precisa ser seguida e a exigência de não se usar drogas ou álcool. Como nosso público é jovem, no final fazemos um trabalho social. Lógico que isso é gradativo. Se torna uma condição que a própria prática proporciona. As famílias dos praticantes ficam muito felizes", aponta.

Linhas clássicas, fontes de inspiração

O yôga pode ser dividido em dois grupos principais: o antigo, que segue a linha naturalista (atribui causas naturais aos efeitos), e o moderno, que promove o espiritualismo e o misticismo. Segundo a pós-graduada em yôga e professora de yôga geral das Faculdades Integradas Espíritas, Karin Tatiana Dietrichkeit, existem oito linhas clássicas de yôga e, cada dia que passa, surgem outras. "O yôga não tem dono. Pode-se adaptar a realidade a ele. As pessoas que dizem que criaram um tipo de yôga pegam as linhas clássicas e adaptam", enfatiza.

As linhas do yôga pregam algumas medidas como uma alimentação correta e a prática em determinada hora da manhã. Mas, para Karin, o excesso de regras pode afastar os interessados. "Se tiver disciplina para praticar, os resultados vêm mais rápido. Mas não pode querer colocar tanta regra. Com a prática, a própria pessoa vai se disciplinando. É uma coisa de dentro para fora", define. "Dizem que assim perde a origem. Entretanto, é possível fazer isso adaptando. Com o tempo e a repetição, a pessoa vê que pode ampliar o yôga em sua vida. Vê que é possível colocar no seu dia-a-dia".

O yôga atinge o emocional do praticante por meio do corpo. Por isto a existência de tantos exercícios e posições, chamadas de ásanas. "Os exercícios dão força e flexibilidade. Possuem vários efeitos, nos níveis físico, mental e emocional. Não é só alongamento, como muitos pensam", esclarece Karin.

O Swásthya Yôga, praticado em muitas escolas de Curitiba, possui 84 mil posições diferentes, sendo 840 delas as mais importantes e 84 essenciais. Rogério Brant, diretor da Universidade de Yôga, explica que todas as posições são derivadas das essenciais. Para a prática, basta apenas um espaço livre, uma roupa confortável, estar descalço e um colchonete ou manta para apoio. (JC)

Dentista agora consegue parar para respirar melhor

A dentista Patrícia Nobell Garcia Narciso pratica yôga há cinco anos. Ela conta que sempre foi à academia fazer ginástica, mas sentiu necessidade de fazer uma introspecção. "Sabia que o yôga proporcionava isso e procurei", afirma. A adesão à filosofia já gerou resultados, segundo Patrícia. A rotina trouxe muito estresse para a vida dela, o que a fez perder a essência de calma e paciência. "Não consegui voltar como era, mas acho que melhorei muito. Você passa a ter um momento só seu, quando pára para respirar melhor. Com o yôga, a gente vê que respira errado o dia inteiro".

Os benefícios do yôga impulsionaram Patrícia a chamar os familiares e amigos próximos para a prática, o que foi atendido prontamente. "A minha irmã é praticante de yôga e fez as posições, inclusive as invertidas, durante toda a gravidez dela. Aconselho yôga para todo mundo. Me identifiquei 100% e não paro com o yôga nunca mais", promete. (JC)

Educação Física briga na Justiça pela fiscalização

O Conselho Regional de Educação Física do Paraná era o órgão responsável pela fiscalização da profissão de instrutor de yôga no Estado. Mas a classe conseguiu na Justiça uma liminar contra o procedimento. O presidente da entidade, Félix d’Ávila, explica que o conselho já recorreu e está aguardando a decisão da Justiça Federal sobre a fiscalização. "A maioria era irregular, sem registro no conselho, não sendo formados em Educação Física. Eles alegaram que yôga era filosofia, mas em várias academias ofereciam hidroyôga, poweyôga, que não têm nada de filosofia", opina.

Os professores de yôga, principalmente das linhas antigas, são veementemente contra a fiscalização da entidade. A obrigação dos instrutores e professores de terem o curso de Educação Física violam os direitos civis da classe, de acordo com eles. A classe destaca que o yôga é reconhecido internacionalmente como filosofia. (JC)

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