A agência estatal de notícias do Líbano informou que o Parlamento aprovou uma lei que, pela primeira vez, concede aos refugiados palestinos o direito de trabalhar como qualquer outro estrangeiro no país. O projeto aprovado hoje é a medida mais séria já tomada por Beirute para alterar suas políticas em relação aos palestinos.

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Até agora, os cerca de 400 mil refugiados palestinos no Líbano só podiam, pela lei, trabalhar em serviços simples, cuja remuneração é baixa. As leis libanesas restringem um número determinado de profissões que podem ser exercidas apenas por libaneses.

Outras profissões, como advocacia, medicina e engenharia, exigem que os profissionais participem de sindicatos e conselhos. Mas muitos sindicatos e conselhos dizem que incluir um estrangeiro só é possível no caso do país de origem do imigrante praticar a reciprocidade aos libaneses, o que na prática barra as profissões aos palestinos.

“Se você é um palestino nascido e criado no Líbano e seu sonho é ser um médico, você não tem sorte”, disse Nadim Houry, diretor, em Beirute, da organização de defesa dos Direitos Humanos Human Rights Watch, com sede nos Estados Unidos.

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Ao contrário dos países árabes vizinhos como a Síria e a Jordânia, onde os palestinos têm mais direitos, os refugiados no Líbano vivem principalmente das doações das agências da Organização das Nações Unidas (ONU) e dos pagamentos feitos por facções rivais palestinas.

Os que trabalham são funcionários das agências da ONU ou estão empregados em serviços mal remunerados, como na construção civil. A maioria vive isolada em campos de refugiados.

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Naturalização

A Constituição do Líbano proíbe a naturalização de refugiados estrangeiros. Parlamentares cristãos temem, em grande parte, que dar direitos como ter propriedades aos palestinos permitiria que no futuro eles se fixassem permanentemente no país, alterando o precário equilíbrio de poder no Líbano, onde metade do Parlamento é formada por cristãos e a outra por muçulmanos. A maioria dos refugiados palestinos são muçulmanos sunitas. O Líbano tem cerca de 4 milhões de habitantes.

Cerca de 4,7 milhões de refugiados palestinos – que foram expulsos ou fugiram das suas casas durante as guerras árabe-israelenses, entre 1948 e 1967 – e seus descendentes vivem em campos de refugiados ao redor do Oriente Médio, em sua maioria na Cisjordânia, Faixa de Gaza, Líbano, Jordânia e Síria, de acordo com dados da ONU.

A questão é uma das mais espinhosas nas negociações de paz entre os árabes e Israel. Negociadores palestinos demandam pelo menos uma repatriação parcial dos milhões de refugiados a Israel, mas o governo israelense recusa essa ideia, dizendo que um fluxo tão grande de palestinos ameaçaria diluir a maioria judaica de Israel e a existência do caráter judaico do Estado.