Uma mistura de disputas seculares por fronteiras, instabilidade econômica e presidentes imprevisíveis está dando um nó de pelo menos US$ 274 bilhões no comércio de energia da América do Sul. O embaraço ameaça frear o desenvolvimento de uma região que poderia não apenas ser autossuficiente, mas aumentar suas exportações de gás, petróleo e biocombustíveis em um século que será marcado pela escassez de energia não-renovável.

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Apesar da fartura de suas reservas, os governos sul-americanos vivem perdidos em um roteiro de apagões elétricos, racionamento e crise que afasta investidores estrangeiros e castiga seus próprios consumidores. Nem a riqueza de recursos hídricos e o pioneirismo do biodiesel foram capazes de reverter esse quadro.

O cenário é rico em contradições, como a da Venezuela – país superprodutor de energia que, desde fevereiro, apaga as luzes por quatro horas diárias em dias alternados por não ter investido no setor no momento em que o país crescia 6% ao ano.

Ou como o Equador, que também impôs apagões diários a seus cidadãos, entre novembro e janeiro, um mês depois de embargar uma hidrelétrica que era construída pela brasileira Odebrecht e de negar-se a pagar um crédito de US$ 243 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiava a obra.

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“Estamos passando por um ciclo de governos que mesclam seus objetivos políticos e ideológicos de curto prazo com as estratégias de energia, que, para funcionar, exigiriam segurança jurídica e estabilidade por períodos muito longos, que transcendam a duração de um ou dois mandatos presidenciais”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Fracasso

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Um dos sinais mais evidentes do fracasso da política de integração energética é o resultado da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa), criada há dez anos para resolver não apenas os nós energéticos, mas também os entraves nas áreas de transporte e comunicações.

O último relatório do Iirsa revela que dos 58 projetos na área de energia, apenas 11 foram concluídos. O potencial de negócios – só para a construção de barragens, linhas de transmissão e gasodutos – chega a US$ 70 bilhões, mas, mesmo assim, poucas construtoras se aventuraram em investir no setor.