Luto

Ícone do apartheid, Nelson Mandela morre aos 95 anos

Nelson Mandela, ícone da luta contra o apartheid na África do Sul e que após 27 anos de prisão se tornou o primeiro presidente negro do país africano, morreu nesta quinta-feira (5), aos 95 anos. O anúncio foi feito pelo presidente sul-africano Jacob Zuma.

“Agora ele está repousando. Ele está agora em paz”, disse Zuma. “Nossa nação perdeu seu maior filho. Nosso povo perdeu seu pai”.

Mandela lutou pela vida nos últimos meses, após inúmeras hospitalizações. Atualmente, ele estava recebendo tratamento em casa. Desde 2004, o líder sul-africano foi visto raras vezes em público.

“O que fez Nelson Mandela grande foi exatamente o que o fez humano. Nós vimos nele o que procurávamos em nós”, declarou Jacob Zuma.

Uma vida de lutas

Nascido em Transkei, na província do Cabo Oriental, em 18 de julho de 1918, Mandela ainda era um jovem estudante de Direito quando envolveu-se com a oposição ao apartheid. De ativista, sabotador e guerrilheiro, Mandela converteu-se em Prêmio Nobel da Paz e em um dos maiores estadistas do crepúsculo do século 20.

Em 1962, informações fornecidas pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, por suas iniciais em inglês) às autoridades sul-africanas levaram à detenção de Mandela.

Primeiro, ele foi condenado a cinco anos de reclusão por viajar ilegalmente ao exterior. Meses depois, porém, Mandela acabou condenado à prisão perpétua pelo regime sul-africano por envolvimento em atos de sabotagem. A sentença máxima prevista para as acusações era a de morte por enforcamento.

Entretanto, a pena de prisão perpétua não seria cumprida na íntegra. A partir da década de 1980, a pressão internacional sobre o regime racista sul-africano se intensificou. O país tornou-se alvo de sanções econômicas a partir de 1986.

Primeiro presidente negro

Eleito presidente da África do Sul em 1989, Frederik Willem de Klerk suspendeu a proscrição do Congresso Nacional Africano (CNA) e de outros grupos de oposição e anistiou os opositores do regime. Nelson Mandela, membro do CNA, foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos de cadeia – entre 1964 e 1982, foi mantido na famosa prisão de Robben Island, perto da Cidade do Cabo.

Por seu papel de resistência na brutal repressão do sistema do apartheid, que segregava negros e brancos, Mandela recebeu o Nobel da Paz em 1993. A biografia disponível no site do Nobel lembra que Mandela defendeu a luta armada nos anos 1960, porém na prisão tornou-se o mais significativo líder negro sul-africano e “um potente símbolo da resistência, quando o movimento antiapartheid ganhava força”.

Em 1994, Madiba, o nome de clã de Mandela que os sul-africanos usam para citá-lo afetuosamente, foi eleito presidente da África do Sul, tornando-se chefe de um governo de unidade nacional também representado por grupos minoritários, inclusive o Partido Nacional do ex-presidente De Klerk.

No novo governo, o arcebispo Desmond Tutu, que já ganhara o Nobel da Paz em 1984, foi indicado para chefiar uma Comissão de Verdade e Reconciliação, histórica tentativa de lidar com as feridas deixadas na sociedade pelo apartheid, quando os negros eram separados, não podendo, por exemplo, sentar ao lado de um branco no ônibus ou nos mesmos bancos escolares que eles. Além de expor a verdade sobre o período, a comissão anistiou os responsáveis pela violência durante o apartheid, com as lideranças preferindo buscar um país mais unido, evitando aprofundar as polarizações do passado.

Comentando o trabalho da comissão, Mandela pediu ao povo que “celebre e reforce o que fizemos como nação em um momento no qual deixamos para sempre para trás nosso terrível passado”. Mesmo após deixar o poder, Mandela manteve-se como uma voz poderosa no cen,ário internacional, sobretudo em questões relativas aos direitos humanos, e nos últimos anos era apontado como um símbolo da busca pela paz.

Saúde frágil

Mandela teve vários problemas de saúde durante a vida e contraiu tuberculose durante seu longo período na prisão. Seus problemas de saúde fizeram com que ele decidisse se aposentar após cumprir o mandato presidencial de cinco anos. Apesar disso, ele se manteve como importante ator da política internacional até 2004, quando decidiu se retirar da vida pública.

Em 1985, ele passou por uma cirurgia por causa do aumento do volume da próstata e em 2001 foi diagnosticado um câncer no mesmo órgão, mas ele superou a doença após sete semanas de radioterapia.

Os problemas respiratórios intensificaram-se nos últimos anos. Mandela foi internado em janeiro de 2011 em um hospital de Johanesburgo. Autoridades disseram inicialmente que ele passaria por exames de rotina, mas foi revelado depois que ele sofria de uma séria infecção respiratória. O caos provocado pelos jornalistas e curiosos que entravam nas alas o hospital público onde ele estava internado fez com que o Exército sul-africano assumisse a responsabilidade pelos cuidados médicos do ex-presidente e o governo se tornasse responsável pelo controle das informações a respeito de sua saúde.

Em fevereiro de 2012, Mandela passou a noite em um hospital para diagnosticar as causas de persistentes dores abdominais. Em 8 de dezembro do mesmo ano, o presidente sul-africano Jacob Zuma informou que Mandela havia dado entrada num hospital militar de Pretória, a capital executiva do país, para exames de rotina, mas dias mais tarde foi revelado que ele estava com infecção pulmonar.

Em dezembro do mesmo ano, outra infecção pulmonar levou Mandela ao hospital, onde passou três semanas internado. O ex-presidente teve alta em 28 de dezembro e foi liberado pelos médicos para terminar o tratamento em casa. Logo após, o presidente Jacob Zuma chegou a pedir aos sul-africanos que rezassem por Mandela. Dias depois, o gabinete da presidência africana divulgou comunicado informando que o Nobel da Paz havia passado por uma cirurgia para remover cálculos biliares, e que havia se recuperado do procedimento cirúrgico e também da infecção pulmonar. Foi a internação mais longa de Mandela desde que foi libertado da prisão, em 1990.

Em abril de 2013, Mandela recebeu alta do hospital após uma internação de dez dias, a terceira em cinco meses, devido à recorrente infecção pulmonar. No entanto, um vídeo divulgado por uma rede de televisão da África do Sul mostrou o ex-presidente em uma poltrona, com sua cabeça sobre um travesseiro e suas pernas estendidas e cobertas por um lençol, com aspecto cinza e sério. Suas bochechas mostravam marcas do que parecia ser uma máscara de oxigênio removida recentemente.

Mandela voltou a apresentar problemas respiratórios e em 8 de junho voltou a um hospital de Pretória para tratamento de uma infecção pulmonar recorrente. Desde então, o estado de saúde do ex-presidente sul-africano e prêmio Nobel da Paz se tornou cada vez mais crítico.

A última aparição pública de Nelson Mandela foi na final da Copa do Mundo de Futebol, em junho de 2010.

Voltar ao topo