Fetos sem cérebro e os aspectos éticos do aborto

Einstein, com toda a sua genialidade científica, acreditava em Deus como criador do Universo e afirmou que a Fé sem a luz da Ciência ficaria cega e a Ciência sem a Fé seria manca. O Espiritismo, pelo tríplice aspecto de filosofia, ciência e religião, busca equacionamento que satisfaça às três vertentes, complementares e não excludentes.

Tal análise trilateral pode ser aplicada ao aborto em geral e aos casos de fetos com anencefalia. No dia 1º de julho, o ministro Marco Aurélio Mello do Supremo Tribunal Federal autorizou a interrupção da gravidez toda vez que exames médicos atestarem a anomalia e determinou a suspensão dos processos atuais envolvendo gestantes e médicos nestes casos. A decisão final, resultante do plenário do STF, virá no próximo mês.

Os religiosos posicionam-se contra ao afirmar que a vida inicia na concepção. Mas cabeças progressistas entendem que a continuação de gravidez fadada ao fracasso caracteriza a imposição de sacrifício inútil à mulher. O testemunho na televisão de uma que passou pela experiência é comovente. De fato, como exigir sacrifício físico de nove meses e vinculação afetiva, obrigatório o primeiro e desejável a segunda numa gravidez normal, de alguém que sabe, de antemão, que não terá mínima chance de ver o filho crescer, sorrir, andar, viver, enfim? E o desgaste emocional, estresse psicológico pela frustração, pelo sentimento de impotência diante do inexorável, a ameaça à harmonia familiar?

Mais sensato e humanitário permitir a interrupção do processo e cancelamento do sofrimento. Porém, como alertou Einstein, a Ciência está longe de tudo saber e a fé numa justiça divina perfeita sem fatalidade e acaso, torna-se instrumento imprescindível na resolução de problemas inerentes à conduta humana. Não podemos perder de vista a dimensão espiritual do homem que não se resume a amontoado de tecidos, órgãos e ossos. Por trás da máquina biológica está a alma no comando e se aquela apresenta alguma disfunção, é na última que devemos buscar a causa e não num destino cego ou aberrações genéticas pois que os genes respondem aos impulsos mais profundos, expressões de conseqüências e necessidades determinadas antes pelo próprio indivíduo.

Temos como hipótese para o fenômeno uma disposição cármica do reencarnante. Pode ter sido um suicida em vida pretérita e o tempo de gestação o complemento dela, mantendo-se parcialmente consciente apesar da ligação com o corpo em formação. Dura expiação e/ou prova também para os genitores, à mãe especialmente, talvez por aborto voluntário em outra época.

Nas questões 346 e 347 de O Livro dos Espíritos, encontramos que se o corpo escolhido por um espírito para reencarnar morrer antes de nascer, ele procurará outro, a causa disto estaria nas imperfeições da matéria e que, mesmo ocorrendo morte logo após o nascimento, tal é de pouca importância para ele. Adiante, na 356, consta que em alguns casos de natimortos, não há alma destinada àqueles corpos, só possuindo vida biológica. E aí seriam incluídos os fetos sem cérebro, o que derrubaria as principais barreiras éticas e morais que proíbem o aborto.

Entretanto, não se pode ter certeza e na dúvida mais recomendável esclarecer a mulher para ampliar a compreensão a respeito de todas as possibilidades. Com ela ficaria a última palavra por respeito ao seu livre-arbítrio, mas ciente de que a eventual ligação de um espírito durante aquele período com um corpo, embora deficiente, pode significar séculos de progresso para ambos e o sacrifício não lhe pareceria tão desumano e inútil.

Quanto à afirmação de 100% de mortes nos nasciturnos com este problema parece possível ser contestada. Fomos informados de caso aqui em Curitiba que, por exigência familiar, é mantido em sigilo. Filho de um médico teria nascido com a anomalia e não só sobrevivido como, apesar de todas as limitações físicas e mentais, atingira a adolescência demonstrando certo grau de consciência. Relato extraído do livro “Prática Médica”, dá conta de que no final do século XVI, autópsia de menino que sofrera traumatismo craniano e conseqüente perda de massa cerebral três anos antes, revelou que só restara um líquido e apesar disso gozava de faculdades normais.

Em exercício que pode soar ficção científica, talvez viável desenvolver-se máquina capaz de detectar presença da energia radiante do espírito durante a gestação, nos estados comatosos e nos embriões congelados. Tudo ficaria simplificado.

Coluna sob responsabilidade da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná. E-mail:

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