Golpe

Evo Morales diz que protesto da oposição é “golpe civil”

Os bloqueios em rodovias ordenados pela oposição mantinham nesta sexta-feira (5) isoladas as principais regiões da Bolívia. Além disso, aumentava o número de prédios públicos ocupados pelos contrários ao governo. O presidente Evo Morales qualificou as medidas da oposição como parte de um “golpe civil” contra seu governo. “As ações do chamado Conselho Nacional da Direita, Conalde, coincidem com as assumidas durante o levantamento armado contra a democracia em 17 de julho de 1980. Agora tenta iniciar um golpe civil tomando instituições”, disse Evo, segundo a Agência Boliviana de Informação (ABI).

O presidente se referia ao sangrento golpe militar liderado por Luis García Meza Tejada, que impediu a posse de Hernán Siles Zuazo. O Conselho Nacional Democrático é o bloco da oposição que agrupa os governadores autonomistas. Para Evo, o protesto não é uma “reivindicação”, mas uma “ação política da direita para conspirar, é um golpe civil de estado”.

A principal via que une o oeste e o leste do país estava interrompida nesta sexta, com centenas de veículos parados, segundo a polícia. O coronel José Murillo informou que estavam suspensas as viagens de passageiros entre La Paz e Santa Cruz. Os bloqueios foram ordenados na quarta-feira por governadores opositores de cinco dos nove departamentos (Estados). Eles protestam contra a intenção do governo de convocar um referendo, no qual a população decidiria sobre uma nova Constituição – os oposicionistas rechaçam o texto.

Chaco, no sul, sofria a situação mais crítica. Algumas rodovias estão interditadas há 12 dias e várias localidades sofrem com a escassez de combustíveis e alimentos, informou a emissora Erbol. Pelo menos dez rotas da rede principal de transportes do país estavam cortadas, entre elas uma que se liga com a Argentina e outra com o Paraguai.

Autonomia

Grupos opositores radicais se mantinham entrincheirados em repartições públicas de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija. As quatro regiões promovem sua autonomia de uma maneira considerada ilegal pelo governo central. Os opositores ameaçaram tomar instalações petroleiras e cortar o fornecimento de gás para o Brasil e a Argentina. O governo por isso reforçou a vigilância militar nessas instalações.

A representante do governo federal em Tarija, Celinda Sosa, denunciou hoje que partidários da oposição tomaram uma instalação de produção de gás natural e uma fábrica de cimento. Celinda advertiu para a possibilidade de cortes elétricos nessa capital do sul boliviano.

O governo aprovou uma decreto na quinta-feira (4) em que adverte que os custos dos danos a instalações públicas serão descontados dos orçamentos regionais. A crise política dos últimos nove meses se aprofundou após o referendo revogatório de 10 de agosto, no qual Evo foi ratificado no cargo com 67% dos votos. O presidente anunciou que pretende avançar em suas reformas, entre elas a nova Constituição – a oposição rechaça o texto, argumentando que não representa todos os bolivianos.