Estudando borboletas e mariposas

A borboleta é considerada por muitos o inseto mais bonito do planeta. Chama a atenção principalmente pelo colorido vivo e variado de suas asas. Como elas, também existem as mariposas, que encantam pela grande diversidade de tamanhos e formato de asas.

Pertencentes ao grupo dos lepidópteros, as borboletas e mariposas se diferenciam por suas cores, detalhes presentes no corpo e hábitos. As borboletas geralmente são bem mais coloridas, possuem as antenas com pontas dilatadas e voam durante o dia. Já as mariposas possuem as antenas em forma de pêlo ou pente e voam durante a noite.

?Em quase todas as espécies existentes, os machos se diferenciam das fêmeas pelo formato das asas. Na maioria das vezes, as fêmeas têm as asas bem mais arredondadas que os machos?, explica o lepidopterólogo (estudioso de borboletas) e professor de entomologia (estudo de insetos) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Olaf Hermann Mielke.

Ao longo da vida, mariposas e borboletas passam por uma série de transformações. Em fase inicial, elas ficam dentro de ovos, passam para a fase de larva ou lagarta e depois para a de pupa ou crisálida. Todas essas podem durar poucos dias ou até meses. Após a fase de pupa, surge a borboleta já adulta. Algumas espécies vivem apenas quatro ou cinco dias. Outras podem sobreviver até pelo período de um ano.

Olaf estima que, no Brasil, vivam cerca de 21.700 espécies de mariposas e 3.300 de borboletas. No Paraná, ele acredita que existam cerca de 8 mil mariposas (4 mil podendo ser encontradas em Curitiba) e mil borboletas (520 habitando a capital). ?Embora o país com maior número de borboletas seja o Peru, com cerca de 3.900 espécies diferentes, o Brasil também é considerado bastante rico?, diz.

Geralmente, as fêmeas de borboletas e mariposas colocam, a cada acasalamento, entre cem e duzentos ovos, mas existem espécies que chegam a colocar 750. ?Os ovos servem de comida para pássaros, lagartos e mesmo mamíferos – em média, de cada cem sobrevive apenas um casal. Se não fosse assim, os animais virariam pragas na natureza.?

Os hábitos das diferentes espécies normalmente são bastante semelhantes. Elas se alimentam basicamente de néctar das flores, frutas podres, sais minerais e até fezes de outros animais. São de grande importância na natureza, pois além de servirem de alimento para outros animais, também polinizam as flores.

Coleção

O professor Olaf é responsável pela maior coleção de borboletas e mariposas da América Latina. Ele possui cerca de 264 mil exemplares de cerca de três mil espécies diferentes existentes em diversos países do mundo. Nascido na Alemanha, Olaf começou a coleção em 1957, no Rio de Janeiro. Quando veio para Curitiba, em 1966, já tinha 5 mil exemplares.

Muitas vezes condenado por manter as borboletas e mariposas sem vida, o professor explica que só as têm por motivos de pesquisa. Ele informa ter coletado os animais para estudar seus hábitos e morfologia.

Despertando a curiosidade dos especialistas

A mariposa brasileira que mais desperta a curiosidade dos pesquisadores é a Almeidaia aidae, que vive nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ela é a espécie considerada mais estranha da biologia lepidóptera.

O interesse se deve ao fato de a mariposa levar quase um ano para nascer e viver apenas poucos dias. Segundo o professor Olaf Mielke, o animal fica cinco dias em fase de ovo, dez dias como larva, 339 dias enterrada no chão em fase de pupa e onze dias como mariposa. ?Nasce apenas uma geração do animal a cada ano. Isso acontece um mês antes do período de chuvas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no final de agosto e início de setembro?, explica. ?A Almeidaia aidae não se alimenta, tendo uma reserva de gordura em seu corpo. Ela nasce praticamente para se reproduzir e morrer. Cada fêmea coloca cerca de cem ovos.?

Como a espécie só nasce em uma determinada época do ano e vive poucos dias, é muito difícil encontrá-la para estudos. Há dois anos, o professor da UFPR passou três dias em Mato Grosso do Sul atrás de um exemplar para pesquisa, mas não conseguiu encontrá-lo. ?Tenho a espécie em minha coleção, mas os exemplares me foram dados por amigos. Nunca consegui capturar algum.?

Raridade

Já a mariposa considerada mais rara no Brasil é a Almeidaia romualdoi, que vive na região de Campos do Jordão, em São Paulo. Até hoje, em todo País, apenas um exemplar foi capturado. Ele se encontra no Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Não existem muitas informações e pesquisas desenvolvidas sobre a espécie, mas acredita-se que ela tenha biologia e hábitos muito parecidos com a Almeidaia aidae. As mariposas mais comuns no Brasil vivem em plantações de soja e mandioca.

Não se sabe qual a borboleta mais rara no Brasil. Em Curitiba, as mais comuns são a Morpho aega e a Morpho anaxibia. Elas possuem uma cor azul muito forte e bastante característica, chamando bastante a atenção das pessoas. Podem ser vistas em diversas praças e parques, como Barigüi, Tanguá, Tingüi e Jardim Botânico. (CV)

Proteção garantida pela legislação do Ibama

No Brasil, muitas borboletas são sacrificadas para virar souvenires de turistas. Em muitas feiras de artesanato e lojas de decoração, é comum encontrar borboletas mortas enfeitando quadros, relógios e mesmo brincos. Os produtos atraem principalmente os estrangeiros, que sem pensar nos prejuízos que a comercialização irregular dos animais gera ao meio ambiente, acabam levando os souvenires como recordações da biodiversidade brasileira.

Porém, como outros animais silvestres, as borboletas são protegidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e por uma série de leis. Elas estão incluídas entre as espécies protegidas pela Lei de Crimes Ambientais (9.605, de 1998) – que diz que só se pode caçar e utilizar animais com autorização de autoridade competente – e contam com uma portaria específica (2.314, de 1992) – que disciplina o uso de lepidópteros para diferentes funções.

A Lei de Proteção à Fauna (5.197, de 1967) prevê a existência de criadouros de animais silvestres para fins econômicos e industriais. Segundo o assessor de gabinete da diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama, Fernando Dalava, na região de Taió, em Santa Catarina, existe um criatório de borboletas autorizado a funcionar. Ele é composto de plantas de atração de borboletas, que produzem flores chamativas e com bastante néctar.

?Quando as borboletas põem ovos, os mesmos são recolhidos. Então as lagartas são manejadas para plantas capazes de alimentá-las e, na fase de pupa, levadas para caixas de papelão. Quando começam a virar borboletas, as fêmeas são libertas e os machos são aproveitados, na proporção de um para cinco, para diversos fins. Entre eles, produção de enfeites e venda a colecionadores e estudo.? (CV)

Famoso borboletário em Foz do Iguaçu

O mais conhecido borboletário do Estado do Paraná fica em Foz do Iguaçu. Ele está localizado dentro do Parque das Aves, a aproximadamente cem metros da entrada do Parque Nacional do Iguaçu, visitado por turistas de todo o mundo durante o ano.

No local, as borboletas ocupam um espaço especial, em meio a centenas de beija-flores e a um jardim com plantas especialmente escolhidas para alimentá-las. Elas ficam soltas em um lugar cercado e coberto por grade, no qual as pessoas podem entrar e vê-las voando em busca do néctar das flores.

No total, os visitantes podem apreciar a beleza de representantes de 25 espécies diferentes e de ocorrência na região do Parque Nacional. Também é possível conhecer o berçário, e acompanhar todo o processo de crescimento, onde as lagartas se transformam em borboletas. Uma série de placas educativas espalhadas pelo local explica aos interessados como o processo acontece.

O Parque das Aves está localizado na Avenida das Cataratas, km 15, e fica aberto para visitação todos os dias, das 8h30 às 17h30.

A entrada custa R$ 16,00 para brasileiros e US$ 8,00 ou R$ 25,00 para estrangeiros. Mais informações pelo telefone: (45) 3529-8282. (CV) 

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