Espanha manda abrir túmulos da época da Guerra Civil

A Justiça espanhola determinou a abertura de túmulos de uma vala na qual suspeita-se que tenham sido enterradas vítimas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). As escavações começaram hoje. A ordem permitindo a escavação foi emitida pela juíza Tania Chico, da cidade de Benavente. Ela tomou a decisão depois de conversar com parentes das vítimas e autorizar a realização de exames de DNA. Esta é a primeira exumação ordenada por um tribunal no país.

A escavação foi a primeira a ser ordenada por um juiz desde que a Associação para a Recuperação da Memória Histórica começou a procurar, uma década atrás, pelos corpos de milhares de pessoas que foram mortas por correligionários do ditador Francisco Franco e enterradas em túmulos sem indicação durante a guerra e a ditadura que a seguiu.

A associação vem exigindo do governo espanhol e das autoridades locais que se envolvam nas buscas, mas até agora tinha feito suas próprias escavações. Isso ocorre porque muitas pessoas, políticos e autoridades locais se opõem à procura, argumentando que tais crimes foram cobertos por uma anistia aprovada em 1977 – dois anos após a morte de Franco -, no momento em que a Espanha estava em processo de redemocratização e o país estava concentrado em sua reconstrução em vez de reabrir velhas feridas.

 

Emilio Silva, presidente da Associação pela Recuperação da Memória Histórica, disse que, mesmo que o governo socialista espanhol tenha aprovado um importante projeto em 2007, que formalmente denunciou o regime de Franco e fez reparações simbólicas às vítimas, deixou de lado a questão dos desaparecidos. “A ordem judicial é um sinal de que os tempos estão mudando”, disse Silva.

 

A associação agora espera encontrar o ossos de pessoas que eles acreditam estejam no local, confirmar suas identidades e dar a elas um funeral apropriado. A decisão segue o lançamento de uma investigação, no ano passado, dos desaparecidos da Guerra Civil pelo conhecido juiz espanhol Baltasar Garzon. Ele retirou-se do caso por causa de uma disputa por jurisdição, mas pediu que as cortes provinciais continuem investigando o caso. Garzon estima que mais de 114 mil pessoas desapareceram entre o início da guerra e 1952, quando, segundo ele, a repressão do regime Franco diminuiu. Historiadores estimam que meio milhão de pessoas morreram só durante a guerra.