Em meio a protestos, novo presidente mexicano promete “cruzada contra fome”

Restabelecer a paz em um país atingido pela violência do narcotráfico e combater a pobreza que afeta uma parte considerável da população foram as principais ações anunciadas hoje por Enrique Peña Nieto ao assumir a presidência do México.

“O primeiro eixo de meu governo é ter um México em paz”, disse Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), em uma cerimônia no Palácio Nacional, que contou com a presença de legisladores, convidados especiais e autoridades de diversos países.

Peña Nieto enumerou cinco eixos de seu governo, entre os quais se destacam o restabelecimento da paz e o combate à pobreza de algumas áreas, acompanhados de 13 ações concretas que se refletiram em iniciativas legais e projetos que serão incluídos no orçamento de 2013.

Sem se referir diretamente ao narcotráfico, que o governo anterior de Felipe Calderón combateu com uma polêmica mobilização de mais de 50 mil militares, Peña Nieto enfatizou a mudança de “paradigma” da luta antidrogas, dando a ela uma face mais humana.

A onda de violência ligada ao narcotráfico deixou, em seis anos, mais de 60 mil mortos, em sua maioria por disputas entre os cartéis e militares.

Como segundo foco de sua presidência de seis anos, Peña Nieto destacou “conseguir um México inclusivo”, com combate à pobreza e redução das desigualdades o país enfrenta, apesar de seus indicadores macroeconômicos positivos.

“Há um México em desenvolvimento e um México que vive no atraso e na pobreza (…) É revoltante e inaceitável que milhões de mexicanos ainda sofram com a fome”, disse ao anunciar que, em 60 dias, colocará em funcionamento uma “cruzada nacional contra a fome”.

Contas públicas

O novo presidente do México se comprometeu também a fechar o próximo ano com “deficit zero” nas contas públicas para garantir a estabilidade econômica do país.

“A solidez das finanças públicas seguirá sendo um pilar na condução da economia nacional”, afirmou Peña Nieto na primeira mensagem à nação pouco após fazer seu juramento constitucional perante o Parlamento.

Entre seus anúncios, Peña Nieto disse que enviará ao Congresso um projeto para assegurar a “responsabilidade” na gestão das contas em estados e municípios, porque em alguns deles a dívida pública “chegou a níveis inaceitáveis”.

Além disso, anunciou que em breve aprovará um decreto para “racionalizar a despesa corrente” e destinar maiores recursos ao investimento que tenha um benefício direto para a população, estabelecendo “medidas de austeridade e disciplina” fiscal.

Protestos

A posse de Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), como o novo presidente do México foi marcada por protestos de parlamentares dentro da Câmara dos Deputados e confrontos entre a polícia e manifestantes armados fora da sede da Câmara.

A sessão começou com cerca de 45 minutos de atraso e em meio ao protesto dos legisladores. “Termina um governo ilegítimo e começa o pesadelo da imposição, ilegitimidade, a restauração começa, voltaremos ao passado”, afirmou o deputado Ricardo Monreal.

Nas ruas, cerca de 3.000 manifestantes protestaram. Alguns deles tentaram furar o cerco policial. Ao menos vinte pessoas ficaram feridas em confrontos, segundo fontes médicas.

“Nós não esperávamos algo tão violento”, comentou um dos cerca de 200 soldados que cercaram o Palácio Legislativo, onde a Polícia Federal instalou, há vários dias, cercas metálicas de três metros de altura.

Pelo menos cinco soldados ficaram feridos, um deles foi atingido no rosto por uma pedra, dois por um coquetel molotov, e dois outros pelo mesmo gás lacrimogêneo lançado para repelir os manifestantes.

Oposição

Várias organizações críticas ao novo poder, entre elas o movimento estudantil #YoSoy132, organizaram manifestações na capital e em outras cidades.
Uma delas aconteceu próximo à emblemática estátua do Anjo da Independência, liderada pelo líder da esquerda Andrés Manuel López Obrador, que perdeu as duas últimas eleições e que acusa Peña Nieto de ter comprado milhões de votos para ganhar a eleição presidencial. As alegações foram rejeitadas pelo Tribunal Eleitoral.

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