Documentos revelam criação do homem e da mulher

ARQUEOLOGIA DO IRAQUE

A origem do homem tem sido, no decorrer da história, um dos mais intrigantes e vastos temas que desafiam sistemas filosóficos e propostas científicas ao longo dos séculos. A mente humana, na sua máxima energia, não poderá elucidar o mistério sobre a origem do homem. Este conhecimento é objeto da revelação divina. É por isso que a Escritura Sagrada é fonte única donde emana toda verdade sobre esse mistério.

Existem, no entanto, outros relatos que surgiram no alvorecer das civilizações antigas, adaptados às condições sociais e religiosas de cada cultura. Esses relatos, embora diferentes na sua estrutura, apresentam fundamentos comuns com os relatos bíblicos; razão pela qual estes últimos se destacam por serem genuínos e verdadeiros.

O relato mesopotâmico Enuma Elish, sobre a criação do universo, escrito em sete tabuinhas de barro, traz entre suas linhas, o evento da origem do homem. Na sexta tabuinha, lê-se que o deus rebelde Kingu, após sua derrota, é condenado por Marduk, o deus vitorioso, a ser degolado. Seu sangue é usado então para formar o homem.

No relato Atrahasis, uma versão pouco diferente da anterior, uma assembléia de deuses decide criar o homem mediante a morte de um ser da divindade, com a expressão “matemos um deus, assim todos os deuses podem ser purificados pelo pingar do seu sangue. Deixai Nintu misturar o sangue com o barro…”. Dessa maneira, o homem é formado.

Sobre as características do homem ao ser criado, existe um relato titulado o Mito de Adapa. Este relato é encontrado em quatro tabuinhas fragmentadas, de origem babilônica. Três dessas tabuinhas pertenciam à Biblioteca de Assurbanipal, em Nínive, e a quarta foi achada entre os arquivos do faraó Amenotep IV, ou Akhenaten, nas ruínas de Tell el-Amarna.

Nesse relato, descreve-se que Adapa recebera muita sabedoria ao ser criado, mas não a imortalidade. Era uma espécie de semideus, sacerdote e líder do templo do deus Ea. O mito revela que Adapa era também pescador e que um dia, enquanto pescava, o vento sul virou sua embarcação. Então, Adapa quebrou as asas do vento, que não soprou por sete dias. Sendo o calor insuportável, o deus Anu o chama, mas o deus Ea, protetor de Adapa, o adverte de não comer ou beber nada, evitando dessa maneira ser envenenado. O conselho foi ruim para Adapa, pois assim rejeitou a bebida e a comida da imortalidade. Foi então obrigado a retornar à Terra.

Dama da costela

É conhecida também uma tabuinha de argila, encontrada na Biblioteca de Assurbanipal III, depositada atualmente no Museu Britânico, a qual descreve, em linhas fragmentadas, o ato especial quando a mulher foi criada. Ela é chamada Nin-Ti, uma expressão sumeriana que pode ser traduzida como “a dama da costela”. D. J. Wisemann, arqueólogo de reconhecida trajetória, sugere que esse nome pode significar “a dama de quem procede vida”, lembrando o significado do nome Eva, “a mãe da humanidade”.

Numa exposição paralela dos relatos mesopotâmicos e os da Bíblia, podem se advertir algumas semelhanças e diferenças que os tornam comuns nos seus fundamentos. Nos relatos Enuma Elish e Atrahasis, o homem é o fruto da execução sumária de um ser divino, enquanto que na Bíblia o homem é o resultado da obra criadora de Deus. Nos relatos mesopotâmicos, o propósito da criação do homem é permitir o lazer dos seres divinos determinando que o homem trabalhe na Terra para o gozo dos deuses. A Bíblia é eloqüente ao exaltar a dignidade do trabalho como propósito da atividade humana, mesmo antes da queda.

Os documentos arqueológicos, após manterem séculos de silêncio soterrados no interior da terra pela poeira do vento e do tempo, afloram na atualidade para testemunhar do conhecimento que as primeiras civilizações possuíam em relação à origem do homem. Do evento inicial, a transmissão do relato sofreu alterações marcantes de geração em geração, influenciada principalmente pelos princípios politeístas das religiões do passado. As culturas se extinguiram, as religiões feneceram, mas Deus permitiu que o verdadeiro relato permanecesse gravado na Bíblia para o conhecimento de todos os povos em todas as épocas.

Rubén Aguilar

é doutor em História Antiga pela USP, arqueólogo e professor do curso de Teologia no Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP.

Editor desta sessão: Ruben Dargã Holdorf

Voltar ao topo