Desenvolvimento não vem só do lucro, diz papa em texto

Os agentes econômicos devem abrir-se à lógica da gratuidade, e não só do lucro, para que os povos conheçam o desenvolvimento social. Essa é a ideia mestra da encíclica “Caritas in Veritate”, a ser publicada hoje pelo papa Bento XVI, segundo estudiosos entrevistados pelo jornal O Estado de S. Paulo que tiveram acesso ao documento antes da sua divulgação. O papa considera o comportamento baseado exclusivamente no interesse incapaz de resolver os dramas sociais. O texto pode ser considerado uma retomada e uma atualização da doutrina social do Concílio Vaticano 2º e da encíclica “Populorum Progressio” (1967), de Paulo VI.

A regulamentação do mercado financeiro, para prevenir o que Bento XVI chama de “escandalosas especulações”, também foi defendida na encíclica, que menciona explicitamente os danos recentes causados à economia. Mesmo assim, o papa preferiu manter distância de modelos que apostam na primazia do Estado. Segundo o documento, a valorização exclusiva do mercado ou a do Estado geram situações desumanas.

Bento XVI recorda a proposta de João Paulo II, na encíclica “Centesimus Annus”, de incluir sempre um terceiro sujeito nas relações entre mercado e Estado: a sociedade civil. O protagonismo de empresas, ONGs, sindicatos e outros grupos sociais seria fundamental para a existência de uma boa regulação da atividade econômica. A renúncia de direitos trabalhistas para promover a competitividade econômica dos países também é vista pelo papa como uma ameaça a um desenvolvimento de longa duração.

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