Cúmplices da bandidagem

A sociedade é tolinha. O governo é tolinho. As autoridades são tolinhas. Todo santo dia, o Beira-Mar é flagrado com novos celulares e novas armas. Tomam tudo dele, mas no dia seguinte ele é de novo surpreendido com suas armas e seus celulares. E não é um só. São dezenas deles. E de novo, e de novo, e de novo… a estória se repete. Mas, como será que esse bandido consegue ludibriar a gente com tamanha facilidade? Ele deve ser mágico!

Como somos tolinhos! No ano passado, o Fernandinho e seus comparsas receberam as chaves das portas de determinadas celas e chacinaram dezenas de presos e alguns agentes penitenciários. Minha gente! Os advogados e os agentes penitenciários que entregaram as chaves aos bandidos e que igualmente lhes deram armas, são cúmplices dos homicídios por eles praticados! Mas, até agora ninguém disse nada a respeito. Ora, a sociedade quer saber que providências foram tomadas, que sanções sofreram aqueles párias que venderam suas almas ao diabo em troca de algumas moedas; daqueles répteis imundos que traíram a confiança desta sociedade que põe comida em seu prato e no prato de seus filhos.

Há tempos, venho dizendo: Cansamos! Nossa indignação chegou ao limite! Nós, os trouxas, que mantemos esse sistema penitenciário falido, chegamos à exaustão! Nós, os trouxas, que pagamos os colchões velhos, que os amotinados queimaram, e os novos que eles vão receber e queimar – cansamos. Nós, os trouxas, que pagamos o salário daqueles funcionários corruptos que vendem celulares, armas e granadas aos bandidos, permitem o tráfico de entorpecentes e a cobrança de pedágio no presídio – não agüentamos mais esta situação.

Pois é. Nós, os trouxas, contribuintes resignados que provavelmente vamos ter que pagar também a indenização pelo assassinato dos três detentos e do agente penitenciário, além das outras 15 pessoas que foram trucidadas em outras rebeliões do ano passado – estamos revoltados!

Na verdade, estamos sem governo. Os bandidos tomaram conta. Eles resolvem como e onde querem cumprir as penas, e quando haverá nova rebelião. Quando vão fechar o comércio. Pode ser hoje ou amanhã. Eles instituíram a pena de morte, sem prévio julgamento e sem processo. E ninguém faz nada! Eles vão queimar de novo os novos colchões que lhes compramos. Vão escavar novos túneis. Vão destruir de novo as novas instalações que lhes fizemos. Vão sangrar nossos agentes, como se sangram suínos no abatedouro. Vão aparecer de novo com novos celulares; novas granadas; novas armas de fogo, que alguém vai entregar-lhes. E ninguém faz nada!

O governo, com o tratamento escrupuloso e demagógico que dispensa à bandidagem, não tem conseguido coisa alguma. Não seria a hora de mudar? Não seria a hora de endurecer? Lembram-se dos grilhões redentores? (algemas nos pés e nas mãos? Por que não?)

Precisamos mandar, urgentemente, emissários ao país mais democrático do mundo (Estados Unidos) para verem como ali são tratados bandidos da estirpe do Fernandinho… Pois eu lhes digo que isto aqui está uma vergonha: Quanto mais ele apronta, mais é tratado a pão-de-ló! Todos morrem de medo do pessoal dos “direitos humanos”… dos bandidos!

Dia desses, alguém disse, num programa de rádio, que é bem provável que o Beira-Mar seja apenas um testa-de-ferro. Que il cap verdadeiro deve ser alguém muito influente e poderoso. De onde será? Da Polícia? Do Senado? Da Magistratura? Do Ministério Público? Quando descobrirem isso… Oh! Vai ser um escândalo. Apenas mais um. E depois, o povo – de memória curta – esquece. E tudo continua como dantes, no quartel de Abrantes…

Albino de Brito Freire

é juiz aposentado, professor da Escola da Magistratura e membro da Academia Paranaense de Letras.

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