“Comida Frankenstein” gera polêmica entre Europa e EUA

Os produtos transgênicos ameaçam se transformar no objeto de uma nova guerra comercial entre a Europa e os Estados Unidos, que não descartam recorrer contra a União Européia (UE) na Organização Mundial do Comércio (OMC) para exigir a autorização para a exportação dos produtos americanos modificados geneticamente.

À possibilidade de abrir uma demanda na OMC se referiu há poucos dias um dos “pesos pesados” da administração de George W. Bush, o representante para o Comércio, Robert Zoellick, que foi o representante de Washington na posse do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em declarações à imprensa americana, Zoellick atacou ? como já havia feito outras vezes ? o embargo que a UE aplica desde 1999 contra a comercialização em seu território dos produtos transgênicos (chamados também OGM, organismos geneticamente modificados).

O problema para os Estados Unidos é que o embargo europeu bloqueia o multimilionário negócio dos colossos americanos do setor agroindustrial, impedindo a entrada na Europa de produtos agrícolas americanos como algodão, milho e soja.

Zoellick foi além em suas declarações, ao criticar a política européia de ajudas alimentares na África e outras áreas pobres do mundo, que exclui os alimentos geneticamente modificados.

A resposta da União Européia às declarações de Zoellick não se fez esperar. A porta-voz do comissário europeu para o Comércio, Pascal Lamy, declarou que Bruxelas não tem intenção de modificar suas posições e que se limitou a “tomar nota” da posição americana.

“Na verdade não há nenhuma novidade. As declarações de Zoellick sobre um recurso junto à OMC não são nenhuma surpresa, visto que outros membros da administração americana já haviam se referido a essa possibilidade”, declarou à ANSA a porta-voz, Arancha González.

González informou que os alimentos que a União Européia envia à África não são geneticamente modificados. “Pelo contrário, nossa política visa a distribuição nesses países unicamente de alimentos provenientes dos mercados locais ou regionais”.

“Com certeza”, sublinhou a porta-voz, “o que não vamos fazer é colocar os países africanos diante do dilema de sofrer com a fome ou lutar contra ela aceitando inclusive os alimentos transgênicos”.

Europeus têm aversão por ?comida Frankenstein?

Ao contrário dos americanos, os europeus têm uma aversão profunda por esse tipo de produtos, que chamam de “comida Frankenstein”, que também é muito criticado pelas organizações ecologistas do Velho Continente.

A União Européia reforçou recentemente sua legislação anti-OGM. Em novembro passado, foi aprovada uma lei severa sobre a identificação em etiquetas desse tipo de produto. Segundo as novas normas, os produtos ? de biscoitos a comida para animais ? que têm presença transgênica superior a 0,9% devem indicar o fato em etiquetas nas embalagens.

No caso em que os Estados Unidos abram formalmente um pleito na OMC contra a Europa, o tema dos OGM poderia se transformar em uma nova “guerra comercial” ? como a do aço ou da banana ? entre as duas margens do Atlântico, conforme especulou no último 10 de janeiro, em matéria de capa, a edição européia do “The Wall Street Journal”. (ANSA).

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