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Chanceler descarta uso do Brasil para tropas americanas ajudarem Venezuela

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta terça-feira, 5, que o Brasil avalia a forma de disponibilizar ajuda humanitária à Venezuela. “Nós estamos criando um processo de coordenação lá em Brasília para ver exatamente como seria a logística, como nós poderíamos ajudar com essa questão do trânsito da ajuda humanitária e da disponibilização da ajuda humanitária como parte também do nosso esforço de consolidar o processo de transição democrática”, afirmou nesta tarde em Washington, sem responder se a ajuda humanitária à Venezuela pode entrar pela fronteira com o Brasil.

Ele descartou, contudo, a possibilidade de receber tropas americanas em território brasileiro para trabalhar na abertura de um canal de apoio à população do país vizinho. “Qualquer que seja a maneira de fazer chegar ajuda humanitária temos certeza que não é necessário ter tropas americanas ou de outro país, nós teríamos condições de proporcionar a logística para isso com nossos próprios meios”, afirmou Araújo.

A ajuda humanitária à Venezuela tem sido oferecida pela comunidade internacional desde o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino, frente à crescente pressão doméstica e internacional pela saída de Nicolás Maduro do poder e a convocação de eleições presidenciais.

Araújo se reuniu na manhã desta terça com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, em Washington. Segundo o chanceler, os dois conversaram sobre “visões de mundo dos dois países” e da expectativa de que Brasil e EUA possam fazer muita coisa em conjunto, como no caso da Venezuela. “É uma visão estratégica de como nós precisamos estar mais juntos em muitas coisas, tanto na parte econômica quanto em segurança e defesa”, afirmou. Ainda segundo Araújo, os dois países têm visto a situação da Venezuela de maneira muito semelhante e com “apoio total ao processo de transição democrática” presidido por Guaidó.

“Coincidimos na necessidade de continuar trabalhando, no nosso caso tanto individualmente quanto através do Grupo de Lima, mas sobretudo esse compromisso muito grande com a redemocratização da Venezuela é uma coisa dos dois países”, afirmou o chanceler.

Ele também se reuniu com o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, durante mais de uma hora. Como informou em entrevista ao Estadão, a viagem a Washington tem como objetivo preparar a visita do presidente Jair Bolsonaro para um encontro com o presidente americano, Donald Trump, em março. A conversa com Lighthizer foi uma das preparatórias pois, segundo o chanceler, a visita de Bolsonaro deve ter um “componente comercial muito forte”. “Queremos voltar para o Brasil, coordenar isso tudo com o Ministério da Economia e apresentar as nossas ideias para que haja resultado muito concreto na visita (de Bolsonaro aos EUA)”, afirmou.

Ele minimizou a declaração do presidente Trump, do ano passado, na qual o americano afirmou que é difícil negociar com o Brasil. Para Araújo, é normal que haja pontos para resolver quando há uma “relação intensa” entre dois países. “Queremos, de uma maneira muito produtiva, colocar tudo dentro de algum tipo de negociação, resolver os pontos específicos e criar projetos bastante ambiciosos para frente. Vemos positivamente que haja esse interesse no Brasil na parte comercial”, afirmou.

A agenda de Araújo inclui ainda reuniões e jantares, sem presença da imprensa, organizadas por think tanks, em Washington e em Nova York. O chanceler definiu as reuniões como encontros com formadores de opinião. Ele se encontra ainda nesta tarde com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. O governo Trump tem se mostrado simpático ao governo Bolsonaro, que deixa clara a intenção de intensificar uma aproximação com os Estados Unidos.

Araújo afirmou que, nos encontros, pretende falar sobre a visão do “novo Brasil, do governo Bolsonaro”. “Nossa visão de mundo, nossos projetos, tanto da economia, de abertura e mais comércio, quanto na previsão de promoção da liberdade, da democracia, nossa visão para OMC, para temas de sustentabilidade, agricultura sustentável por exemplo”, disse.

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