Cerveja – Um sabor que atravessa milênios

Cerveja acompanha o homem desde os primórdios da civilização e sua tradição e culturas têm sido preservadas pelos séculos. Conheça seus rituais e mistérios:

Foram os sumérios, uma das mais antigas civilizações humanas de que se tem registro, o primeiro povo a deixar para a posteridade uma imagem da fabricação da cerveja. A bebida, batizada com seu atual nome durante o Império Romano (“cervisia”), teve sua produção registrada num entalhe de pedra, em baixo-relevo, o “Monumento azul”, datado de seis mil anos antes de Cristo. O objeto, hoje em exposição no Museu do Louvre, resgata a história de uma bebida que acompanha o homem desde as primeiras sociedades humanas.

Após a civilização suméria, desenvolvida ao sul da Mesopotâmia e notável pela complexidade de seus feitos matemáticos, astronômicos e literários (“Gilgamesh”), o mundo antigo celebrou seu apogeu com a bebida: babilônios, assírios, chineses, gregos e romanos foram grandes cervejeiros. Data de 5.400 a.C. a primeira cervejaria de que se tem notícia, no Antigo Egito.

Apesar de todos os esforços, foi na Idade Média que a cerveja ganhou status e “mídia”, graças à infra-estrutura e aos registros de receitas escritas pelos monges católicos. Foram os monastérios medievais que concederam à bebida o aroma e o sabor que reconhecemos hoje, registrando e pesquisando técnicas e ingredientes e, através desse gesto, multiplicando a informação por gerações. A preocupação com a qualidade da cerveja parece ter sempre sido um diferencial de seus fabricantes.

“Um país não pode ser levado a sério se não tiver ao menos a própria cerveja e uma companhia aérea, ajuda se tiver um bom time de futebol e algumas armas nucleares, mas o mais importante é ter a própria cerveja.” (Frank Zappa)

Em 1516, Guilherme IV, o Duque de Baviera, decreta a “Lei da Pureza”, especificando os componentes da cerveja: malte de cevada, lúpulo e água, considerada até hoje a base fundamental da bebida. Essa foi a primeira Lei de Alimentos de que se tem registro no mundo, sendo determinante para a melhora da qualidade da cerveja, que antes era produzida indiscriminadamente.

Foi também na Alemanha que a cerveja, pela primeira vez, extrapolou o banquete dos nobres e os portões dos palácios, ganhando as ruas da cidade, conquistando a população que não era contemplada com os privilégios de clero e nobreza. O rei Gambrinus resolveu que, para celebrar sua festa de casamento, o povo deveria poder brindar com cerveja suas bodas, e a festa se repetiu pelos anos seguintes, sempre no mês de outubro.

150 anos de sedução

No Brasil, a produção de uma cerveja nacional foi retardada por D. João VI, que, preocupado com a concorrência ao vinho lusitano, proibiu a comercialização da bebida na colônia. Mas de nada adiantou: foi a própria corte portuguesa que trouxe a bebida para o Brasil, em 1808, fugindo das tropas napoleônicas que percorriam a Europa.

Em 1839 é descoberto na cidade de Pilsen, na atual República Tcheca, o processo conhecido como de baixa fermentação, que, junto à excelente qualidade de água do local, pobre em sais, contribuiu para o surgimento da famosa cerveja homônima, a “loira gelada” leve e espumante que mais vende em todo o planeta, até nossos dias.

A cerveja Bohemia, de 1853, comemora este ano 150 anos de cerveja produzida no Brasil. Eleita pela família real brasileira a bebida oficial do palácio, foi nomeada pelo rei, em 1876, Imperial Fábrica de Cerveja Nacional e retrata com exatidão a natureza de nosso gosto pela cerveja, verdadeira paixão nacional.

Ingredientes: a alquimia

Malte de cevada (ou trigo). Água. Lúpulo. Fermento. Um tipo de adjunto sólido. Essas são as bases de qualquer boa cerveja, em qualquer lugar do mundo.

O fluxo produtivo da cerveja requer alta qualificação de profissionais, insumos e equipamentos que controlem rigorosamente a dosagem de cada ingrediente, misturando artesanato e tecnologia numa equação perfeita. A água responde por cerca de 92% da cerveja. O malte (de cevada, trigo ou outro cereal) determina seu sabor. O adjunto sólido (arroz, xarope ou milho) fornece açúcar adicional para a fermentação e torna a cerveja mais leve. O lúpulo imprime o amargor e aroma característico. E o fermento, responsável por transformar os açúcares em gás carbônico e álcool, confere, pelo tipo e uso, o grau de teor alcoólico da bebida e seu aroma.

Tipos de cerveja

Pilsen

– Clara, leve, baixo teor alcoólico (4% a 5%), baixa fermentação, é a cerveja mais consumida no Brasil e no mundo. É refrescante e tem aroma com notas leves de malte, lúpulo e frutas.

Malzbier

– Escura, mais encorpada, com uma leve doçura, teor alcoólico mais baixo (3,5%), ideal para o inverno, baixa fermentação, com aroma menos frutado, aproximando-se mais do torrado e do caramelo.

Stout

– Escura, bem encorpada, teor alcoólico médio (4% a 6%), aroma de torrado, é originária da Irlanda e rica em lúpulo, mais seca. Proporciona um belo visual quando servida no copo, dado o contraste entre o líquido, muito escuro, e a espuma, bem clara.Schwarzbier – Escura mas leve, sofisticada, boa para o inverno.

Weiss

– Cerveja cujo malte é feito a partir do trigo (ao invés da tradicional cevada), com espuma mais cremosa, estável e pronunciada. Pouco amarga e bastante refrescante, é ideal para o verão. É clara e de baixo teor alcoólico.

Ale

– Famosa cerveja inglesa, possui alta fermentação, é bem aromática, com notas pronunciadas de frutas. São cervejas mais escuras (âmbar), mais amargas e encorpadas, com aroma de lúpulo também mais pronunciado. Alto teor alcoólico (de 5% a 7%).

Lambic

– Cerveja de origem belga, feita de frutas vermelhas, é mais ácida, mais refrescante, e dirigida principalmente ao público feminino. É fermentada diretamente com frutas, possui cor avermelhada, espuma meio rosada e teor alcoólico médio.

Bock

– Escura, mais amarga, teor alcoólico mais elevado (6% a 7%), com aromas de café, torrado e caramelo. Boa para o frio.

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