Brasileiro vira tema de campanha na Colômbia

O publicitário Duda Mendonça virou tema da campanha presidencial da Colômbia. A poucos dias do segundo turno, Duda promete colocar no ar uma propaganda decisiva para a vitória do economista Óscar Iván Zuluaga, rival do presidente Juan Manuel Santos e títere do ex-presidente Álvaro Uribe. O publicitário terá poucos dias para limpar seu nome da denúncia de que cobrará US$ 2 milhões como bônus se Zuluaga for eleito.

“Sou vítima de calúnia. Virei o foco da campanha porque consegui bons resultados. Vou voltar para Bogotá e processar o cara”, declarou. “E vamos vencer a eleição. Não há hipótese de perdermos.” O “cara”, no caso, é Daniel Coronell, vice-presidente da Univisión, principal rede de TV latino-americana dos EUA.

Em sua coluna na revista Semana, Coronell fez um jogo de palavras com o apelido do marqueteiro – “duda”, que em espanhol significa dúvida – e reiterou a informação sobre o prêmio prometido por Zuluaga em caso de vitória, publicada anteriormente pelo jornal La República.

Coronell escreveu que o pagamento já realizado à agência de publicidade MPB Marketing Político, de Duda Mendonça, totalizou US$ 2 milhões, embora a campanha de Zuluaga tenha registrado no Conselho Nacional Eleitoral o total de US$ 81,9 mil.

Ele também informou que a agência teria sido registrada na Câmara de Comércio de Medellín com o mesmo endereço do escritório do advogado Michell Pineda Ramírez, que teria prestado serviços jurídicos e apoiado candidaturas de ex-paramilitares.

Duda diz que não tem nada com Pineda e afirma estar impressionado com o volume de acusações recíprocas e de escândalos da campanha colombiana. “Nunca vi tantos.” E vai mais longe: para ele, atacar o adversário não ajudará seu candidato. Essa agressividade, porém, tem sido usada e abusada pela campanha de Zuluaga.

Relações políticas. No mês passado, o estrategista do projeto de reeleição de Santos, Juan José Rendón, foi acusado de ter recebido US$ 12 milhões de um narcotraficante. Rendón acabou renunciando 20 dias antes do primeiro turno, quando Zuluaga surpreendeu ao obter 29,25% dos votos, contra 25,69% de Santos.

O publicitário brasileiro alega não ter nenhuma relação com o caso, diz não conhecer os políticos da Colômbia nem ter conversado diretamente com eleitores do país. Sua única entrevista a uma rádio local foi desastrosa: ninguém entendeu o que ele disse porque não fala espanhol. Nas quatro vezes anteriores em que desembarcou em Bogotá, Duda diz não ter pisado fora do hotel, onde entra e sai de reuniões da campanha.

A agência MPB está envolvida em campanhas políticas em Portugal, Polônia e Chile, além da Colômbia. No Brasil, engajou-se no projeto de Paulo Skaf, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), de eleger-se para o Palácio Bandeirantes. No dia 5, apresentou sua estratégia ao empresário paulista e, na tarde seguinte, embarcou pela quinta vez para Bogotá. Desta vez, com a missão de arrematar a campanha de Zuluaga e de neutralizar os ataques recebidos.

“Dificilmente farei mudança na campanha. Mas estou devendo um filme final, que vou fazer nesta semana. Ainda não sei sobre o quê”, afirmou Duda. “Agora é só rezar para o Senhor do Bonfim. Já pedi a bênção ao Gantois”, completou, referindo-se ao terreiro de candomblé mais reverenciado de Salvador, sua terra natal.

Vitória

Com base em pesquisas diárias de opinião e em consultas qualitativas, Duda garante que seu candidato tem de 5 a 6 pontos porcentuais à frente do presidente Santos. Os indecisos representariam 7%. “Se eu conseguir metade deles para Zuluaga, o elejo presidente”, calcula. O jogo da seleção da Colômbia contra a Grécia, na véspera da eleição, não deve fazer diferença no resultado das urnas, aposta Duda. “A Colômbia não é como o Brasil.”

Duda costuma trabalhar o eleitor como se fosse um mero consumidor. O produto tem de valer a pena e ser atrativo. No caso colombiano, Zuluaga era um produto desconhecido do partido Centro Democrático, capitaneado pelo ex-presidente Álvaro Uribe. “Acho que me contrataram pela carga emocional que dou às minhas campanhas no Brasil. Mas preferi ser racional. Eu tinha de tornar Zuluaga conhecido e, depois, admirado pelo eleitor”, afirmou. “Botei no ar o currículo dele todos os dias. As pessoas tinham de saber que ele foi considerado o melhor ministro da Fazenda da América Latina pela revista Emerging Markets, em 2009, e que um país não vai pra frente sem as suas finanças estruturadas.”

A principal ideia de Duda foi a criação da marca “Z” para o candidato, imediatamente associada pelos eleitores ao herói justiceiro Zorro. Apesar de ter acertado na mosca, o publicitário confessa não ter imaginado antes essa vinculação pelos eleitores colombianos.

Em apenas dez dias de campanha, enquanto Santos veiculou uma mesma propaganda na televisão, Duda colocou no ar oito diferentes filmes de seu candidato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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