Depois dos percalços ao longo da guerra civil na Líbia, o Brasil trabalha para normalizar as relações com o Conselho Nacional de Transição (CNT). O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, reuniu-se na segunda-feira em Nova York com o primeiro-ministro interino do país, Mahmud Jibril. Em jogo, estão contratos da Petrobras, da Odebrecht e de outras empresas brasileiras que não retomaram seus trabalhos na Líbia.

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Enquanto outros países já reabriram suas embaixadas em Trípoli, a do Brasil permanece fechada. “Na conversa com Jibril, a tônica foi a normalização das relações”, disse à reportagem o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar da Silva Nunes. “Jibril não fez nenhuma menção de desagrado com a demora do reconhecimento (do CNT pelo Brasil).”

Os EUA, países europeus, a China e até a Rússia, tradicional aliada de Muamar Kadafi, reconheceram o CNT como governo legítimo da Líbia depois da tomada de Trípoli pelos rebeldes, em 23 de agosto. O governo brasileiro esperou que a ONU o reconhecesse, no dia 16 de setembro.

Entre a tomada de Trípoli e o reconhecimento pela ONU, o Brasil bloqueou os investimentos do banco ABC, controlado pelo Banco Central líbio. Os EUA, a União Europeia e as monarquias do Golfo Pérsico fizeram o contrário: congelaram os ativos do governo líbio durante a guerra e os descongelaram depois da tomada de Trípoli.

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Antes, o Brasil se abstivera na votação do Conselho de Segurança da ONU que autorizou, em 17 de março, a imposição da zona de exclusão aérea pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para proteger os civis dos ataques de Kadafi.

Críticas

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Essas atitudes causaram indignação nos líbios, que concluíram que o Brasil apoiava Kadafi. Mustafa Gheriani, então porta-voz dos rebeldes do CNT, disse ao Estado depois da votação no Conselho: “Kadafi prometeu dar contratos de petróleo para o Brasil, Índia, China e Rússia (quatro dos cinco países que se abstiveram na votação, além da Alemanha). Lula é um revolucionário também. O Brasil não deveria se deixar comprar por Kadafi.”

O porta-voz do Itamaraty negou que o Brasil tenha ficado do lado de Kadafi. “Não tínhamos nenhuma hesitação em estar do lado dos manifestantes”, assegurou, lembrando que o Brasil votou, em 25 de fevereiro, pela suspensão da Líbia no Conselho de Direitos Humanos da ONU. “Mas, no ambiente diplomático, há regras. Você não sai apoiando o primeiro grupo de manifestantes que aparece.”

Segundo Tovar, o Brasil quis “esperar para ver como as coisas se acomodavam” e dar oportunidade para que a Liga Árabe e a União Africana assumissem posição, num contexto multilateral. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.