Ausência de Chávez em Brasília turbina títulos da Venezuela

Em 5 de abril de 2013, a Venezuela deverá adotar a nomenclatura de produtos usada pelo Mercosul e começará a utilizar a tarifa externa comum aplicada a importações que vem de fora do bloco, dois dos primeiros passos concretos para adesão do país ao grupo.

O anúncio foi feito pelo chanceler Antonio Patriota hoje em Brasília, mas não será comemorada na cidade pelo maior entusiasta da notícia, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Em tratamento médico em Cuba desde a semana passada, Chávez não virá a cúpula do Mercosul que acontece nesta quinta e sexta em Brasília. A informação não é oficial, mas a equipe de cerimonial do presidente na capital já foi desmobilizada.

Questionado sobre o tema, o chanceler Patriota não negou a ausência do venezuelano, como vinha acontecendo no governo brasileiro desde a semana passada, e disse que conversaria sobre o tema com o vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, cuja chegada à Brasília estava prevista para a tarde desta quinta-feira.

“O vice-presidente Nicolás Maduro deverá chegar hoje à tarde e eu terei condições, uma vez ele em Brasília, de verificar se o presidente Chávez terá condições de vir ou não.”

Longa ausência

Desde que revelou ter câncer em 2011, poucos episódios foram tão eloquentes sobre as limitações enfrentadas por Chávez desde então do que sua ausência em Brasília. Ele não faz aparições públicas desde 15 de novembro, o mais longo hiato em 18 meses.

O contraste com a reunião passada do Mercosul, em julho, é mais pungente porque Brasília foi a única viagem internacional de peso que realizou desde junho de 2011. Na base aérea da capital, Chávez comemorou sua reestreia, para a qual havia escolhido gravata nova. No Planalto, fez questão de subir a rampa. Foi um sinal de fortaleza enviado aos parceiros da região e aos seguidores internos — a Venezuela estava em plena campanha eleitoral.

A mensagem não poderia ser mais distinta agora. A participação na reunião estava sendo encarada no mercado de títulos venezuelanos, volátil a cada sumiço de Chávez, como um marco sobre sua situação pós-eleitoral. Nesta quinta-feira, os juros cobrados de títulos da dívida venezuelana com vencimento em 2027 caíram 33 pontos, chegando ao menor valor desde 2008 -quanto mais se crê que aumenta as chances de mudança política na Venezuela, menor é a taxa-risco cobrada do país.

Filha

Além dos mercados, outro sinal coletado foi uma mensagem compartilhada pela filha de Chávez, María Gabriela, pelo Twitter e pela rede social de imagens no último mês. Na imagem citada pela agência Bloomberg, a filha diz: “Nunca sabemos o quão forte somos até que ser forte é a nossa última opção”.

Ainda assim, o cenário adiante segue incerto. Com controle da informação manejado pelos experts cubanos, houve tanto erro quantos acertos dos que se aventuraram a publicar dados sobre a saúde de Chávez — notadamente o jornalista venezuelano Nelson Bocaranda.

Sem falar que, como o mentor Fidel Castro, não raro Chávez tem feito aparições planejadas para contradizer reportagens ou desmoralizar “furos”. Se um truque midiático ou não, o fato é que o governo conseguiu convencer os venezuelanos. Em setembro, um mês antes da crucial votação que o elegeu para governar até 2019, dois terços da população não tinha dúvidas de que Chávez estava curado.

Passada a cúpula, e confirmada a ausência, a pergunta agora será: Chávez estará na Venezuela em 10 de janeiro para a posse do novo mandato, como prometem seus ministros e Maduro? A presidente Dilma Rousseff prometeu comparecer, num simbólico gesto de renovação de votos da relação.

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