As inteligências múltiplas e o trabalho do futuro

Até o presente, a educação escolar ainda prepara o cidadão para os serviços rotineiros de produção e para os serviços de pessoa a pessoa. Mas, na avaliação de Robert B. Reich, professor titular da Harvard University dos Estados Unidos, para que o cidadão possa ser competitivo no trabalho do futuro, precisa aprender os serviços analítico-simbólicos. Poderá manipular esses serviços (dados, palavras, representações orais e visuais) em três tipos de atividades: identificação de problemas; solução de problemas e agenciamento estratégico. Para aprendê-los, é preciso ter capacidade de abstração, de pensamento sistêmico, de experimentação e de colaboração.

Na opinião de Paulo Freire (1997), os alunos devem ser preparados para uma sociedade em constante mudança na qual devem ser construtores de seu conhecimento e participarem do processo de intuição e descoberta como momentos privilegiados de sua emancipação. Os professores deixam de ser entregadores de informação para facilitar o processo de aprendizagem. Neste processo, em que o aluno deve ser visto como ser total, entra a necessidade de ser visto também como possuidor de inteligências múltiplas. Ao lado das inteligências lingüística e lógico-matemática, consideradas verbais, outras devem ser desenvolvidas como as inteligências: visual, corporal, musical, interpessoal e intrapessoal.

As inteligências múltiplas. Howard Gardner, psicólogo, construtivista e professor-adjunto de neurologia da universidade de medicina de Boston, num estudo de 12 anos, constata que o ser humano tem diversas inteligências. São parte da herança genética e se manifestam universalmente, independentemente da educação e da cultura. Se uma inteligência é de elevado nível, não requer o mesmo nível das demais, pois são determinadas por partes distintas do cérebro humano.

Partindo de métodos e esquemas desenvolvidos por Piaget, Gardner focaliza-os não somente como sistema lingüístico, lógico e numérico, como faz a teoria piagetiana, mas como sistemas simbólicos que abarcam o musical, o corporal, o espacial e o pessoal. Brasilina Passarelli (1992), doutora, professora e coordenadora de projetos especiais da USP-Universidade de São Paulo, comenta as cinco inteligências classificadas por Gardner, além das duas já conhecidas lingüística/verbal e lógico-matemática. Afirma não existirem como entidades fisicamente verificáveis, mas que são úteis como construções científicas.

Inteligência Perfil aponta para Visual/EspacialPercepção de diferentes ângulos, representação gráfica e imaginação ativa.Musical/RitmicaReconhecimento da estrutura musical, criação de melodias/ritmos.CorporalAlerta através do corpo (sentidos), controle de movimentos voluntários.Inteligências pessoais (interpessoal)Criação e manutenção da sinergia, trabalho cooperativo, entendimento da perspectiva do outro, percepção dos estados emocionais do outro.Inteligências pessoais (intrapessoal)Concentração total da mente, metacognição, senso de autoconhecimento, capacidade de abstração e raciocínio.Gardner (1995) objetiva superar a noção comum que se tem de inteligência como capacidade potencial de cada pessoa em grau menor ou maior e critica as medidas como os testes de Quociente de Aprendizagem (Q.I.). Os instrumentos para medir as competências das inteligências múltiplas não podem se reduzir a métodos verbais que se apóiam em habilidades lingüísticas e lógico-matemáticas, como aqueles que podem ser feitos por testes de lápis e papel.

A prática. Depois da publicação do livro Frames of Mind, em 1983, a teoria das inteligências múltiplas vem contribuindo com o repensar do fazer pedagógico, pois, como diz Passarelli (2002), a escola precisa “deixar de privilegiar as inteligências lingüística e lógico-matemática para atingir as outras capacidades inerentes a todo ser humano normal, (…) falando ao aluno através de todos os meios de comunicação possíveis e ouvindo-o através de suas capacidades privilegiadas”.

Essa afirmação pode se dar, segundo Passarelli (1992), nas ações do professor: incentivar os alunos a aprender o mesmo assunto em sete maneiras diferentes como sete estações de escolha, e que eles tenham liberdade de entregar sua pesquisa histórica em forma de história em quadrinhos, vídeo, folhetos, esculturas e tenham a liberdade de compor canções. A escola estará democratizando outras linguagens de simbolização como meios de expressão do conhecimento, preparando melhor o aluno para o trabalho do futuro.

Zélia Maria Bonamigo

é jornalista, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.E-mail:
zeliabonamigo@uol.com.br

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