Arqueologia do Oriente Médio

Arqueólogos brasileiros rebatem reportagem do Times



De acordo com informações publicadas no New York Times, arqueólogos estariam tentando mais uma vez disseminar idéias antibíblicas nos meios judaico-cristãos. Entre outras especulações, destacam-se a inexistência dos patriarcas Abraão e Moisés, o mito da queda das muralhas de Jericó e a mistificação do rei Davi que, segundo consta, teria sido um líder provinciano cuja reputação foi exagerada para se tornar uma referência para a nação. As propostas são resultado de achados arqueológicos em Israel e arredores nos últimos 25 anos.

No entanto, existem vestígios do período patriarcal. Conforme Ruben Aguilar, doutor em História Antiga pela USP, “esses vestígios podem ser encontrados em ruínas de cidades, artefatos, cerâmicas e, sobretudo, códigos de leis e registros históricos de costumes, todos relacionados com o período patriarcal”. Exemplificando, Aguilar lista as ruínas de Ur dos Caldeus, as leis do rei Lipitishtar e os documentos do império de Ebla, na Síria. 

Rodrigo Silva, doutor em Teologia Bíblica e especializado em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, também apresenta evidências da veracidade do relato bíblico. “Temos descoberto verdadeiras bibliotecas desse período, como o Código de Hamurábi, e uma imensa variedade de textos hititas e egípcios, que descrevem atitudes e costumes descritos na Bíblia”. Segundo ele, a narrativa do Gênesis é tremendamente harmônica com detalhes históricos do período patriarcal (cerca de 2000 a.C.).

Aceitação

As teorias heréticas receberam grande aceitação entre rabinos não-ortodoxos. Estes são caracterizados por não guardarem o dia de descanso e por usarem alimentos expressamente proibidos na Bíblia. Segundo o rabino Harold Kushner, autor do livro When Bad Things Happen to Good People, “os religiosos de hoje são muito sofisticados e versados sobre psicologia, literatura e história, mas estão trancados em uma versão infantil da Bíblia”. 

Para balançar ainda mais as crenças judaicas, a Sinagoga Unida do Judaísmo Conservador, representando 1,5 milhão de judeus conservadores dos Estados Unidos, lançou uma nova Torá. Intitulado Etz Hayim (Árvore da Vida), o primeiro comentário dos conservadores faz uma interpretação incorporando os mais recentes achados arqueológicos, além de estudos filosóficos e antropológicos. Dessa forma, de acordo com os próprios editores, esta é uma das tentativas mais ousadas de transformar a autoria divina da Bíblia em humana. 

Segundo a matéria do New York Times, as considerações arqueológicas e as releituras bíblicas surpreenderão a fé dos judeus e cristãos. No entanto, para Aguilar, a propagação dessas idéias não surtirá má repercussão dentro da comunidade de fundamentalistas bíblicos. “Só terão efeitos negativos para aqueles que não tiverem convicção na Bíblia”, prevê. “Estes não querem ver a mão do Criador por trás de tudo”, emenda.

Silva também não vê muito perigo nessas declarações. Conforme ele, essas afirmações, além de velhas, são gratuitas. “Eu poderia fazer qualquer declaração desse nível, falando inverdades. A questão é: como posso provar o que disse?”, indaga.

Fernando Torres

é aluno do terceiro ano de Jornalismo do Unasp e editor da revista eletrônica Canal da Imprensa (www.canaldaimprensa.com.br).

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