Animais estão cada vez mais gordos

Não são apenas as crianças que estão sofrendo cada vez mais devido a problemas ligados à obesidade. Nas clínicas e consultórios veterinários, os profissionais de Medicina Veterinária têm constatado que os animais também estão cada vez mais gordinhos, muitas vezes sendo verdadeiros reflexos de seus donos.

Pesquisa realizada em 2004, que vem sendo divulgada pela Total Alimentos – empresa brasileira especializada na fabricação de produtos alimentícios para animais -, informa que de 25% a 33% dos cães e gatos que freqüentam clínicas veterinárias estão obesos. Além disso, 40% dos cães adultos apresentam sobrepeso (excesso de peso entre 10% e 20% do ideal).

O médico veterinário João Alfredo Kleiner, que trabalha no Hospital Veterinário São Bernardo, em Curitiba, revela que um quarto dos pacientes que atende diariamente sofrem de obesidade. Como entre os cachorros o peso varia muito de raça para raça, ele ensina como os proprietários podem identificar se os seus animais estão obesos ou não.

"O cão magro é aquele em que se consegue enxergar as costelas. Em cachorros com peso ideal, não se consegue ver as costelas, mas é possível senti-las com as mãos. Em cães obesos, as costelas não podem ser sentidas devido à camada de gordura. Estes precisam passar por avaliação veterinária e iniciar tratamento voltado ao emagrecimento", diz.

Causas

São diversas as causas da obesidade felina e canina. Uma das principais delas é o fornecimento exagerado de alimentos aliado ao sedentarismo, que atinge principalmente cães que vivem em apartamentos e cujos donos não têm muito tempo disponível para levá-los para passear. Muitas vezes, a falta de atenção é erroneamente compensada com excesso de mimos. Estes geralmente acontecem através do fornecimento de petiscos e guloseimas.

O ideal é que os animais sejam alimentados três vezes ao dia, de manhã, à tarde e à noite, e só consumam ração. Porém existem pessoas que deixam o prato de comida à disposição de cães e gatos o dia todo e lhes dão alimentos preparados para seres humanos, prejudicando-lhes imensamente a saúde e comprometendo-lhes o bem-estar.

Alguns proprietários que fornecem ração costumam acreditar que o alimento é tedioso e, entre as refeições, dão aos animais pequenos agrados, como biscoitos, chocolates, pedaços de pão, salgadinhos, pipoca, entre outros. A atitude também é considerada incorreta, sendo que mesmo petiscos específicos a animais, como biscoitos que contribuem com a higiene e a saúde dentária, devem ser fornecidos de forma controlada, sempre de acordo com as orientações presentes nos rótulos e embalagens.

O avanço da idade e o fato de o animal ser castrado também contribuem com o excesso de peso. Em relação à idade, o veterinário explica que dificilmente filhotes são obesos, pois geralmente eles são mais agitados e realizam um maior número de atividades. O excesso de peso normalmente começa a se manifestar a partir dos dois anos de idade, sendo mais comum em bichos idosos. Quanto à castração, os donos também devem ficar atentos.

"A cirurgia é bastante recomendada. Porém, depois dela, os proprietários devem tomar alguns cuidados para que o animal não engorde, seja ele macho ou fêmea. Nos cães e gatos castrados, a quantidade diária necessária de energia é 20% inferior que nos animais inteiros (não castrados) devido à diminuição da taxa metabólica e da atividade física. Em muitas espécies, os hormônios sexuais possuem característica de diminuir o apetite. Dessa forma, os animais castrados devem comer menos", declara João Alfredo.

Especificamente entre os cães, algumas raças costumam ter predisposição genética à obesidade. São elas: Labrador, Cocker Spaniel, Dachshunds (mais conhecido como "lingüiça"), Basset Hounds e Beagles. Entre os gatos, o sobrepeso é verificado principalmente nos representantes da raça persa.

Excesso de peso amplia risco de doença

Ao contrário do que muita gente pensa, a obesidade não deixa apenas os animais mais "fofinhos". Como acontece com os seres humanos, o excesso de peso acarreta uma série de problemas aos bichos, influenciando no bem-estar e na qualidade de vida.

Tanto os cachorros quanto os gatos obesos ficam mais sujeitos a desenvolverem endocrinopatias (problemas de glândulas), desordens funcionais e alterações metabólicas. Entre as endocrinopatias, as doenças mais comuns são hipotireoidismo e diabetes.

"O hipotireoidismo é caracterizado pela falta de hormônio da tireóide. Faz com que o animal fique sonolento, não queira se movimentar muito e, muitas vezes, desenvolva doenças oculares e de pele", informa o veterinário João Alfredo Kleiner.

O diabetes faz com que o bicho aumente o consumo de água, passe a urinar mais e a perder peso mesmo sem deixar de comer. Como nos seres humanos, é necessária a aplicação diária de injeções de insulina. O problema, quando não tratado, pode levar ao desenvolvimento de catarata (em um ou ambos os olhos).

Entre as desordens funcionais estão: diminuição da imunidade, dispnéia (falta de ar ou encurtamento da respiração), intolerância a exercícios físicos, hipertensão, doenças articulares e ósseas e problemas no parto. São caracterizadas como alterações metabólicas: resistência à insulina, complicações anestésicas e desordens no metabolismo de gordura.

Além do que já foi citado, bichos obesos também possuem maiores chances de desenvolver doenças cardiovasculares, tumores de bexiga e artroses. Entre os gatos, costuma haver desenvolvimento de lipidose hepática. "Quando o gato é gordo, passa por algum tipo de estresse e pára de comer, seu organismo passa a aproveitar as reservas de gordura. Porém, o fígado tem dificuldade de metabolizar esta gordura, que começa a se acumular nas células hepáticas. Quando não tratada, a doença – que faz com que o gato fique sem se alimentar ainda mais, não tenha vontade de se movimentar e fique com as orelhas e os olhos amarelados – pode levar à morte", informa a médica veterinária Marúcia de Andrade Cruz, que é especialista em felinos. (CV)

Bichos também suam para emagrecer

Para perder calorias e emagrecer, os animais também devem "suar a camisa". O segredo do sucesso está em uma dieta balanceada acompanhada de exercícios físicos diários. Porém qualquer mudança alimentar e de hábitos deve ter acompanhamento médico veterinário. Os exercícios, por exemplo, não podem ser impostos aos bichos sem orientação profissional.

O veterinário do Hospital São Bernardo, João Alfredo Kleiner, alerta que não adianta diminuir de forma brusca a quantidade de alimento. Deste jeito, o animal pode se tornar ansioso e estressado, incomodando os proprietários ao ficar pedindo comida a todo momento. O melhor é que a quantidade seja mantida a mesma, mas que seja diminuída a quantidade de energia da ração.

"O certo é dar a mesma quantidade, mas dividida em porções pequenas, diversas vezes ao longo do dia. A quantidade de energia pode ser reduzida através da troca da ração. Atualmente, existem produtos light e voltados a raças e idades específicas de animais".

Também é indicado o uso de fibras na alimentação, pois elas diluem as calorias, provocam maior sensação de saciedade, aumentam o volume do bolo fecal, diminuem o consumo de comida e, conseqüentemente, contribuem com a perda de peso.

Exercícios

Os exercícios devem ser introduzidos à rotina dos animais aos poucos e de forma moderada, principalmente entre indivíduos com problemas respiratórios, cardiovasculares e ortopédicos. Quando inseridos de forma brusca, podem fazer mais mal do que bem.

São bastante indicadas as caminhadas, que devem ser feitas em horários de sol fraco e com o cuidado de que as fezes dos animais sejam recolhidas e não deixadas em vias públicas. Brincadeiras com bolinhas e outros brinquedos também costumam ser recomendadas. (CV)

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