Angolanos ajudam a combater rebeldes do Congo

Forças angolanas combatem ao lado de soldados congoleses no leste da República Democrática do Congo (antigo Zaire) para fazer frente aos rebeldes concentrados nos arredores de Goma, disseram nesta sexta-feira (7) um funcionário e um mantenedor de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). O secretário-geral do órgão, Ban Ki-moon, disse em Nairóbi, no Quênia, que a força de paz das Nações Unidas no Congo, de 17 mil homens, opera no limite e que a região inteira da África centro-austral poderá ser engolfada em uma guerra maior.

De acordo com o funcionário da ONU no Congo, um número não especificados de soldados de Angola desembarcou na região há quatro dias. Tanto ele quanto o militar mantenedor de paz, de nacionalidade uruguaia, falaram sob a condição de anonimato. O governo do Congo requisitou ajuda política e militar a Angola em 29 de outubro.

“Nós precisamos deixar o ciclo de violência para trás”, afirmou Ban, em uma conferência com sete líderes africanos, incluído o presidente da República Democrática do Congo, Laurent Kabila, e o presidente de Ruanda, Paul Kagame. Acredita-se que o presidente de Ruanda tenha uma forte influência sobre o general insurgente congolês Laurent Nkunda. Ambos são da etnia tutsi.

O conflito entre o governo do Congo e os rebeldes liderados pelos tutsi, que já forçou dezenas de milhares de pessoas a deixarem suas casas, é alimentado pelo ódio étnico deixado pelo genocídio de 500 mil tutsi em Ruanda em 1994 e pelas guerras civis que o Congo presenciou até 2002. Atualmente, o governo de Ruanda é comandado pela maioria tutsi. Nkunda anunciou um cessar-fogo unilateral na semana passada e pediu conversações diretas com o governo de Kabila. Com a negativa, os combates foram retomados.

Escalada do conflito

O temor é de que a presença dos soldados angolanos provoque uma escalada no conflito e o leve para além das fronteiras da República Democrática do Congo. O governo de Ruanda, por exemplo, poderia considerar uma “provocação” a presença de soldados no Congo. Dominado pela etnia tutsi, o governo ruandês vinha sendo acusado de apoiar os rebeldes congoleses.

“Esse conflito poderá engolfar a região inteira”, alertou Ban. O Comissário de Desenvolvimento da União Européia, Louis Michel, que teve conversas separadas com os governos de Kabila e Kagame nas últimas semanas, instou os dois lados a respeitarem o cessar-fogo. No entanto, ele afirmou que negociações diretas entre os dois presidentes não estavam previstas hoje. Ban também pediu diálogo a ambos.

Um diplomata africano graduado que estava na reunião afirmou que a missão de paz da ONU fracassou. “A missão falhou” disse Eddie Kwizera, assessor mais graduado do presidente de Uganda, Yoweri Museveni, para as relações com o Congo. O ministro do Exterior da Tanzânia, país que atualmente comanda a União Africana, disse que os líderes na cúpula no Quênia consideram o envio de um emissário à região de confronto, para tentar mediar uma nova trégua.