Ele já estava muito velho. Velho e cansado. Este, com certeza, seria seu último Natal e já estava tudo programado. Com muito cuidado, Antônio estendeu a toalha, alisou-a com as mãos, nada de marcas de dobra…Os copos, os talheres, alguns pratos brancos. Uma grande vela vermelha bem no centro…Um ramo de flores. Ah, sim, alguns refrigerantes.

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Os convidados foram chegando e Antônio mostrava a cada um o seu lugar. Não faltava ninguém e uma grande travessa com pedaços de peru, farofa e batatas douradas, fumegando de tão quentinha, foi levada ao centro.

Ele não esquecera da roupa nova e tão feliz estava com aquele banquete, que exagerou na bebida e adormeceu.

O sol já estava alto e as crianças pedalando suas bicicletas, exibindo roupas e brinquedos novos…O que seria ali, debaixo daquela árvore? Alguns adultos alertados pelos filhos aproximaram-se: viram uma folha de jornal bem aberta e esticada. Por cima copos de papel, algumas latinhas de refrigerante vazias, um prato de papelão bem no centro, com alguns restos de arroz … Em volta do jornal, algumas bonecas maltratadas davam a impressão de que crianças haviam brincado de ?faz-de-conta?.

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Deitado bem perto, com uma folha de papel colorido cobrindo seus andrajos, um mendigo parecia adormecido. Uma garrafa de pinga quase vazia estava ao seu lado.

Margarita Wasserman – membro do Instituto Histórico e Geográfico do paraná

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