À procura de um passado remoto

As pesquisas sobre a datação de eventos cósmicos e sobre o tempo de vida na Terra têm levantado informações importantes para a ciência. Contudo, pouca gente parece se surpreender com os resultados.

Quando se diz que o universo nasceu há cerca de 20 bilhões de anos, ou que os dinossauros desapareceram há mais de 60 milhões de anos, quase ninguém se mostra admirado com estas cifras. Poder-se-ia imaginar que o assunto é tão conhecido que não causa mais surpresas. Mas é exatamente ao contrário. Os números são tão incomensuráveis que geralmente não se tem idéia do que eles representam.

As confusões que em geral se faz com relação ao tempo pré-histórico podem ser claramente percebidas nos desenhos animados, ou nos filmes de ficção. Em séries infanto-juvenis, como Os Flintstones, ou Família Dinossauro, se vê dinossauros convivendo lado a lado com homens pré-históricos. Ora, homens e dinossauros nunca se encontraram. Quando surgiram na terra os primeiros hominídeos, cerca de 600 mil anos atrás, os dinossauros já estavam extintos há muitos milhões de anos.

Na imaginação popular, entretanto, isto faz pouca diferença, 600 mil ou 50 milhões de anos, pois ao leigo o importante é que faz muito tempo. Tanto tempo que é quase impossível imaginar. E com isso acaba-se considerando banal aquilo cuja complexidade deveria ser motivo de assombro.

Diante de intervalos de tempo tão longos – milhares, milhões, ou até bilhões de anos -, a questão que se coloca é a seguinte: como os cientistas chegaram a esses números? Como determinar a época precisa do surgimento do homem na Terra, por exemplo?

Em primeiro lugar, deve-se ter em mente que as pesquisas dessa natureza raramente chegam a resultados precisos. As datas são sempre aproximadas, e a divergência entre os cientistas é muito grande. Mesmo assim, é importante notar que a concepção de tempo histórico mudou desde o início do século até os dias atuais.

Outrora acreditava-se que o homem – e com ele todo o universo – havia surgido na Terra há cerca de 6 mil anos. Hoje, porém, tem-se notícia de restos humanos de mais de 20 mil anos atrás. E mais: há vestígios fósseis de prováveis ancestrais do homem, que teriam vivido há centenas de milhares de anos. Mesmo com toda a divergência existente entre cientistas, nenhum pesquisador sério se arriscaria a datar o início da vida na Terra em 4.000 a.C. A tendência, pelo contrário, é estabelecer intervalos de tempo cada vez maiores, a partir das pesquisas realizadas.

Quando se trata de estabelecer as datas do surgimento e de desenvolvimento do ser humano em tempos pré-históricos, deve-se primeiro precisar o que se entende por “ser humano”. Há fósseis de hominídeos, isto é, criaturas semelhantes ao homem, que teriam vivido há centenas de milhares de anos.

Esses seres pré-históricos, prováveis ancestrais do homem moderno, não possuíam ferramentas, mas tinham mãos com o dedo polegar opositor. Esta conformação física da mão é hoje em dia exclusiva da espécie humana, e permite o movimento dos dedos em forma de pinça.

O surgimento do primeiro homem como tal, pertencente à espécie homo sapiens, não pode ser datado com muita precisão. O que se pode ter certeza, porém, é que o ser humano, da forma física que é conhecido atualmente, habita a Terra há mais de 20 mil anos.

Uma das questões mais polêmicas envolvendo a origem do homem, diz respeito a duas interpretações conflitantes: evolucionismo e o criacionismo. De acordo com a teoria evolucionista, o homem atual descende de espécies inferiores e sua estrutura física e psíquica vem se desenvolvendo lentamente ao longo de centenas de milhares de anos. Já para os defensores da teoria criacionista, o homem surgiu na Terra em um passado longínquo, exatamente como ele é hoje, por um ato da vontade de Deus.

É importante perceber que a aceitação da ciência não implica na recusa da religião. Não se deve opor evolucionismo e criacionismo como se opõe ciência e superstição, verdade e erro. Se a Terra tem milhões de anos de idade, isto não significa que Deus não exista. Do mesmo modo, a classificação zoológica da espécie humana, como homo sapiens, não exclui o valor de doutrinas teológicas. Se a ciência diz que o homem é um animal, as religiões dizem que ele possui uma alma, e que, portanto, não é só um mero animal. O confronto entre religião e ciência, quando bem-interpretado, não precisa resultar em desentendimentos. O respeito mútuo, mesmo que às vezes difícil, é sempre possível e desejável.

José Antonio Vasconcelos

é Doutor em História Social pela Unicamp, professor na Universidade Tuiuti do Paraná. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.E-mail:
historicismo@hotmail.com

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