A mediunidade do deputado Bassuma

Fato inusitado, nem tanto pelo momento como pelo local. Quinta-feira, 28 de outubro, ao encerrar no Congresso Nacional a sessão que presidia em homenagem a Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, pelo bicentenário de seu nascimento, o deputado Luiz Bassuma, paranaense, mas eleito pela Bahia, fez uma prece.

Até aí nada de excepcional, porém, às primeiras palavras em tom normal, seguiram-se frases com voz alterada, acompanhadas por gestos peculiares das mãos. Na verdade, o deputado estava envolvido mediunicamente por uma entidade que, especulou-se, poderia ser Bezerra de Menezes, também ele deputado, além de médico no Rio de Janeiro e que chegou a ocupar a presidência da Federação Espírita Brasileira no final do século XIX; ou então Chico Xavier.

Ao ser entrevistado depois, Bassuma fez algumas declarações interessantes. Disse que, de fato, é médium de psicofonia (comunicação espiritual oral) há 20 anos e que não era capaz de identificar o mensageiro ainda que já tivesse se apresentado a ele cerca de uma dezena de vezes.

O flagrante captado pelas câmaras de televisão foi reproduzido em diversos programas da mídia e encarado com naturalidade tendo recebido tratamento respeitoso, o que não é muito comum nestas ocasiões. Muitas vezes opta-se pelo sensacionalismo ou pelo chiste, com o imediata tentativa de descredenciamento do protagonista, acusação de fraude ou, no mínimo, insinuação de erro por boa-fé.

Até muitos espíritas com os quais conversamos nos dias subseqüentes ao episódio, receberam a ocorrência com reservas, levantando questionamentos sobre a autenticidade da comunicação, identidade do autor desencarnado e principalmente validade da ocorrência dadas as circunstâncias. Embora o intercâmbio entre os espíritos ou almas que já viveram por aqui fisicamente e nós ainda nesta última condição seja um dos pilares da filosofia espírita e, portanto, fato corriqueiro, tem-se como dever de quem labora no meio, observar e analisar todas as possibilidades para evitar o simples engodo ou fraudes grosseiras. Particularmente, em termos de mediunidade, atenta-se à recomendação do Espírito de Erasto, em O Livro dos Médiuns, quando afirma ser preferível rejeitar dez verdades do que aceitar uma única teoria falsa.

Parece-nos, baseado nas palavras do deputado Bassuma e no teor da mensagem que não só é autêntica como proveio de uma entidade séria e moralizada. Quanto aos objetivos visto que segundo os próprios espíritos que atuaram na elaboração da Doutrina Espírita, se realmente superiores, jamais fazem nada de inútil pensamos não somente num modo de chamar a atenção para o fato em si, mas para propagar o conteúdo da mensagem que, embora não traga nenhuma revelação de impacto, aliás, como a maioria, serviu para atestar a presença espiritual naquele momento e local.

A comunicação fala da energia vital cuja circulação no corpo físico seria facilitada pela paz do Cristo, então invocada. Fala da solidariedade entre os seres, da misericórdia divina e das inevitáveis conseqüências de cada pensamento, palavra ou ato praticado. Cita Kardec e Chico Xavier o que afasta a hipótese de que fosse ele quem falava. E termina num agradecimento aos espíritos pela possibilidade de crescimento espiritual como requisito para uma vida feliz, de consciência tranqüila pelo dever bem cumprido, quando consumada a transposição definitiva para a dimensão espiritual.

Note-se que tal incidente, se é que podemos chamá-lo assim, não foi a primeira vez que ocorreu. No dia 26 de junho de 2003, numa sessão em homenagem desta vez ao médium Chico Xavier, pela passagem de seu primeiro aniversário de desencarnação, além de uma demonstração de psicopictografia ou pintura mediúnica, realizada pelo médium baiano José Medrado no plenário da Câmara, no encerramento Luiz Bassuma permitiu o transe mediúnico durante o qual um Espírito comunicou-se, proferindo a oração de encerramento.

O médium pode e deve exercer o seu livre-arbítrio para permitir ou não manifestações desta natureza. Ele deve manter o controle da situação, evitando tais ocorrências em locais ou momentos inconvenientes. Além do que nenhum espírito elevado usará de constrangimento para se comunicar. Ocasionalmente, fatos assim podem prestar significativo benefício à divulgação do Espiritismo, mostrando-o como algo inerente a todo ser humano e comprobatório da imortalidade da alma. Apenas não podem se tornar rotineiros.

Coluna de responsabilidade da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná.

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