Mr. Carter é um grande picareta

O ex-presidente americano Jimmy Carter tem o hábito estranho de aproveitar as oportunidades históricas para revelar ao mundo como é medíocre. Carter, em 1976, era senador obscuro pela inexpressiva Geórgia. E foi presidente, com o bordão mais infantil da política de seu país. Ele apertava a mão das pessoas, nas grandes cidades, e dizia: “Meu nome é Jimmy Carter. Eu quero ser presidente”.

É algo tão absurdo que funcionou. Contou a seu favor enfrentar Gerald Ford, um sujeito tão desastrado que passou para a história como o presidente americano que mais tombo levou. O homem despencava toda hora feito jaca. E caiu na frente de Carter. Ford, por sua vez, só foi presidente porque Richard Nixon, salafrário de gênio, foi pego com a mão na botija, em Watergate e renunciou.

Bem, depois de quatro anos todos sabiam quem era Jimmy Carter, e ninguém perdeu a chance de mandá-lo de volta para a Geórgia, onde tinha uma plantação de amendoins. Se ele se contentasse em plantar amendoins, tudo bem. O mundo teria mais amendoins, nada mal. Ocorre que Carter é um matuto teimoso que diz coisas estranhas e faz outras mais estranhas ainda. É um sujeito tão estranho que sua cantora preferida é uma brasileira, Rosemary. Ao ser indagado certa vez se fora infiel a sua mulher, Rosalyn, não hesitou. “Muitas vezes!”. Esperava-se um escândalo. Mas ele, com olhar de pateta, completou: “Mas só em pensamentos”. Olha só o tipo!

Com este espírito entre cívico e imbecil, ele deixou os amendoins na fazenda e inventou um Instituto Carter, meio de passar o tempo e ficar em evidência mediando conflitos, fiscalizando eleições em países como Trinidad Tobago e outros lugares que aceitam recebê-lo. É um mistério se Carter realmente se leva a sério. Mas que o cara tem sorte, não resta dúvida. Entre uma eleição em Tonga Tonga e outra em Tanganica, ganhou o Nobel da Paz.

É de se deduzir que não foi por mérito. Sabe-se que aqueles senhores da Academia Sueca são terríveis e aplicam peças. Generais ganham o Nobel da Paz e escritores medíocres a láurea literária. A peça de Carter se justifica como desfeita a George W. Bush, o homem que encarnou na Casa Branca uma versão macabra de Mel Brooks. Tudo isto é medíocre. Não se sabe o que Bush achou, talvez nem saiba que diabo de prêmio é o Nobel. Não está na apólice de seguro dele. Mas quem soma dois e dois, percebeu que a conta não batia.

Afinal, Carter não meteu o nariz nas complicadas apurações americanas. Ou será que fraude nos Estados Unidos é moralmente superior a fraude em outros países nos quais Carter mete o bedelho? E, agora, enquanto milhões de pessoas em todo o mundo vão às ruas contra as bombas em Bagdá, onde se mete Mr. Carter? Nenhuma ação grandiosa. Silêncio. Fica em sua casca de amendoim, na Geórgia.

Claro, Carter é tão insosso que parecem injustas estas analogias. Elas se justificariam se ele fosse sério e não um caipira tentando da melhor maneira ganhar na terra o seu pedaço no reino dos céus. No entanto, se aceita um papel, não pode recusar as responsabilidades históricas inerentes. Porque, com aquela cara de tonto, Mr. Carter pode iludir muita gente, mas não a história. E diante dela ele posa como um picareta esperto e bem enfronhado. Que usa a paz como a uma prostituta.

Edilson Pereira

(edilsonpereira@pron.com.br) é editor em O Estado.

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