Mortes inexplicáveis

Há um contra-senso absurdo e inexplicável, sobretudo pela fatalidade recorrente com que marca de maneira cruel as famílias enlutadas pela perda de entes queridos, ou que passam a conviver com portadores de traumas irreversíveis adquiridos nos acidentes rodoviários tão comuns nos períodos de férias e feriados prolongados.

O balanço assustador dos acidentes com vítimas no feriado da Páscoa, liberado segunda-feira pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) – 1.744 acidentes, 1.149 feridos e 79 mortos, 11 dos quais no Paraná -, é um indicativo gritante de que providências devem ser tomadas com urgência, a fim de minimizar tanto quanto for possível, em área de tamanha complexidade, esse resquício da fúria genocida das estradas brasileiras.

Não se pode aceitar, do ponto de vista do humanismo civilizatório, que, segundo imaginamos, está impregnado em nossa formação cultural, que pessoas continuem morrendo ou sejam condenadas a arrastar no próprio corpo, pelo resto da vida, seqüelas físicas e mentais que ficaram dos acidentes em que se envolveram.

Além da imprudência dos motoristas, decorrente em grande medida do precário nível de aprendizagem no manejo de veículos automotores, das condições criminosas de abandono em que se encontra a malha rodoviária, o número de acidentes com vítimas fatais e feridos aumentou no último feriadão devido ao adicional de veículos em trânsito, em face da perspectiva de caos nos aeroportos.

A PRF sabe que os acidentes ocorrem pela imperícia de muitos que saem para as estradas, conduzindo familiares, sem a menor consciência das dificuldades que vão enfrentar num trânsito pesado e, no limite, sem o menor grau de informação ou reflexos para agir em situações extremas. Daí tantos mortos e feridos.

Contudo, não ignoram os encarregados da segurança dos viajantes, embora esse seja um conceito desmoralizado pela absurda ausência da ação governamental em áreas vitais, que nossas rodovias são uma versão moderna do deus Moloque, em lúbrica espera do sangue ou da mutilação dos corpos das vítimas escolhidas pelas probabilidades.

A sociedade que sustenta a perdulária gestão pública deve exigir soluções consentâneas com a dignidade de seres civilizados. Nada mais.

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