Morte de policial no Rio de Janeiro pode ter ligação com caça-níqueis

A Polícia Civil investiga se o assassinato do inspetor Félix dos Santos Tostes, de 49 anos, pode ter ligação com o envolvimento do agente na máfia dos caça-níqueis e com a milícia (grupo paramilitar que expulsa os traficantes e cobra dos moradores por proteção) da Favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá (zona oeste). Acusado de chefiar os milicianos dessa comunidade e de comandar a casa de bingo Rio das Pedras, Tostes foi executado com 34 tiros anteontem no bairro do Recreio dos Bandeiras (zona oeste).

O vereador Nadinho de Rio das Pedras (PFL), apontado pela viúva do policial como o mentor do crime, será o primeiro a prestar depoimento. Identificada apenas como Maria do Socorro, ela gritou o nome de Nadinho ao se aproximar do carro onde estava o corpo do marido. Nos últimos oito anos, 50 pessoas morreram na guerra dos caça-níqueis. Já a disputa violenta entre milicianos e traficantes pelo controle territorial provocou pelo menos sete mortes nos últimos dias.

O sub-chefe de Polícia Civil, delegado Ricardo Martins, ainda não sabe precisar a motivação do assassinato do inspetor. "Pode ser disputa interna entre milícias, queima de arquivo, briga de caça-níqueis ou execução por qualquer outro problema," disse. Sobre os autores do crime, o delegado trabalha com várias possibilidades, entre elas a participação de policiais na ação, uma vez que os assassinos transitaram à luz do dia, em dois carros, por um bairro movimentado e patrulhado com "armas pesadas". Setenta e duas cápsulas de pistolas e fuzis foram encontradas no chão da Rua Senador Rui Carneiro, onde o inspetor foi executado.

"Não posso dizer qual é a linha de investigação mais forte. Todas são fortes. Milicianos ou matadores profissionais podem ter praticado o crime, mas não descarto nada. Só sei que são pessoas que lidam com isso diariamente", declarou Martins. Ele também pedirá a Justiça a quebra do sigilo telefônico do inspetor. Tostes usou o celular antes de sair do apartamento de uma amiga e ser executado por pelo menos cinco homens no Recreio dos Bandeirantes. A polícia apreendeu o aparelho e quer saber para quem ele fez a última ligação.

Assim que deixou o edifício residencial, o carro em que estava, uma Hilux placa KZW 8846, foi cercado por dois veículos, um Astra e uma Blazer Preta, e perfurado por 30 tiros. A Hilux do inspetor, que recebia R$ 1.800 de salário mensal, era alugada (diária de R$ 434,00). "Execução premeditada. Ele nem teve tempo de puxar sua pistola. Encontramos a arma", contou Martins, convicto de algumas testemunhas podem fazer o retrato-falado dos criminosos. Ele informou também que a Delegacia de Homicídios da zona oeste vai atuar em conjunto com a Delegacia da Barra da Tijuca (16.ª DP), onde o caso foi registrado, no inquérito que vai apurar a morte do inspetor.

Tostes respondia a dois inquéritos por suposto envolvimento com a máfia dos caça-níqueis e com a milícia da Favela Rio das Pedras. A corregedoria da Polícia Civil instaurou os dois processos administrativos após receber denúncias anônimas contra o policial. Assessor do gabinete da Polícia Civil até janeiro de 2007 e condecorado pela Câmara Municipal e pela corporação, em 2005 e em 2006, respectivamente, ele foi afastado do cargo e transferido para o Setor de Pessoal em Situação Diversa (SPSD) no dia 30 de janeiro. Além das acusações relacionadas às milícias, Tostes não comparecia ao trabalho havia 30 dias.

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