Mínimo minimorum

A área econômica do governo, com a aprovação do novo mínimo de R$ 260,00, mais uma vez provou que é quem manda. E a área política e social, que nada apita. O aumento decidido, não sem muitas reuniões, procrastinações e outros métodos que marcam a forma de administrar do governo Lula, cumpre o prometido. O governo petista concedeu uma majoração acima da inflação. Acima da inflação em l,73%, majoração tão pequena que chega a ser ridícula. Em dinheiro, é de R$ 4,00. De qualquer forma, este novo salário mínimo é acima da inflação e bate o do ano passado. Em 2003 o mínimo subiu para R$ 240,00, o que significou a “barbaridade” de um aumento real de 1,23%.

Como a queda no poder aquisitivo dos trabalhadores tem sido bem maior que esses percentuais, deduz-se que, na prática, o mínimo não está sendo aumentado. E sequer chega a estar sendo corrigido. Mas o governo Lula decidiu aumentar o salário-família significativamente, em termos percentuais. Ele, que é de R$ 13,48, vai para R$ 20,00. Não está longe de dobrar, mas desdobre-se quem o recebe para sustentar, com esses tostões, seus dependentes. Elogiamos a idéia de um salário família mais substancial, mas acaba de cair a ficha. O salário é pago aos dependentes, filhos com até 14 anos de idade. Acontece que a grande massa de trabalhadores que percebe o mínimo é de aposentados. E aposentado em geral é idoso e não tem filhos nessa idade. Assim, o novo salário-família, que sendo mais alto compensaria a ninharia do novo mínimo, em nada refresca.

Os trabalhadores, através de suas centrais sindicais, a começar pela CUT, que, antes de ser governo, Lula tratava como a uma irmã, estão protestando. E empresários aplaudindo. Aqueles consideram o óbvio: o novo salário mínimo é insuficiente e esperavam algo acima de R$ 270,00, o que chegou a ser admitido pelo próprio presidente da República. Os mais otimistas chegaram a vaticinar um novo mínimo de R$ 300,00. Sonhos de outono.

Nas comemorações de 1.º de Maio, Dia do Trabalho, o novo mínimo é objeto de protestos tanto da Central Única dos Trabalhadores, como da Força Sindical. Lula reza na Missa do Trabalhador, em São Bernardo do Campo. E é para rezar, pois mais essa vitória da equipe econômica sobre a equipe política e social do seu governo exige muita reza. Não orações para que a equipe política e social se conforme e as forças que fazem as bases do governo silenciem, já que não é de se esperar que aplaudam. São obedientes. Orações para que não tenhamos dado mais um passo para a prevista e temida convulsão social. A Igreja e outras organizações da sociedade, além de críticas do governo, diante da atual situação e, em especial, do desemprego, vêem esse risco e não muito distante.

Resta esperar que o Congresso force a barra e consiga um aumento do mínimo um pouco menos indecente. E que o governo afinal se convença de que, apesar dos problemas que um mínimo mais substancial possa acarretar, é hora de deixar algum dinheirinho nas mãos do povo, para que ele possa consumir e ajudar na retomada do desenvolvimento. Essa parece-nos a tese essencial: que se estamos em depressão ou algo parecido, é preciso transferir dinheiro do governo para o povo e não deste para o governo. E se o salário mínimo obriga o governo a subsidiar o INSS, prefeituras pequenas ou quem mais não possa arcar com o mínimo, que o faça, desde que promova, por essa via, o desenvolvimento. Com desenvolvimento, arrecadará mais e o País sairá dessa dolorosa letargia.

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