Mico presidencial

Que barbaridade! Acredito que poucas vezes um presidente do Brasil tenha pago um mico tão grande quanto Lula no caso do suposto desaparecimento do prefeito de Ipatinga (MG), Chico Ferramenta. Prioridade absoluta para procurar um homem que estava na gandaia! Está certo que em termos de mico, pouca coisa supera Itamar Franco, risonho, fotografado ao lado de uma vedete com, digamos assim, a “pomba” desprotegida. Mas este já é fora-de-série. No caso de Lula, pode ser invocado um atenuante: os assassinatos dos prefeitos de Santo André, Celso Daniel, e de Campinas, o Toninho do PT. É a velha história, cachorro mordido por cobra tem medo de lingüiça.

Mas o caso serve para lembrar as questões sobre segurança levantadas na campanha petista, esquecidas até o momento. A prioridade total que Lula determinou à Polícia Federal incidiu sobre um prefeito que acabou se demonstrando promíscuo e irresponsável. Chico Ferramenta sumiu por 48 horas, deixando familiares e colegas de partido em alerta e foi encontrado ileso na quinta-feira em um hotel do centro de Belo Horizonte, acompanhado de duas garotas de programa. Então cabe aqui um questionamento: Será que as prioridades principais não deveriam estar voltadas ao bem-estar da sociedade civil, ao invés de priorizar um político?

Diga-se de passagem, se algo tivesse ocorrido verdadeiramente com o prefeito afastado, seria bom para que autoridades aprendessem a escolher as prioridades necessárias. Mas parece que, mesmo mudando a ideologia governamental, os governantes preferem ficar em gabinetes com ar-condicionado e se esbaldando em noitadas. O resultado disso é: a prioridade da Polícia Federal é a busca do prefeito que cai na gandaia.

Meu Deus, até quando teremos que esperar que atitudes de pulso sejam tomadas na área da segurança. A Polícia Federal já tem um efetivo tão restrito. E o pior é que não vemos, ouvimos e sentimos qualquer tipo de manifestação do nosso presidente e do nosso ministro da Justiça. Agora, se algo tivesse verdadeiramente ocorrido com Chico Ferramenta, a comoção nacional seria imensa. Uma série de medidas no âmbito da segurança pública seriam tomadas. Mas a violência continua. Pessoas seguem morrendo de maneira fútil. O crime organizado avança na surdina. Os traficantes ficam ricos cada vez mais. E nada é feito ou apresentado para que tenhamos um futuro mais seguro.

Há tempo, porém, para que os projetos apresentados durante a campanha eleitoral sejam aplicados e desenvolvidos ao longo dos anos, para que possamos estar “armados” para essa cruel guerra contra o crime organizado. A sociedade quer segurança da mesma forma que deseja um prato de comida. Pois morto ninguém come nada. E com a união de esforços, como meu pai me ensinou e me diz constantemente, o bem sempre vence o mal. Basta querer, acreditar e lutar.

Anselmo Meyer (anselmo@pron.com.br) é editor de Cidades em O Estado.

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