Mercado espera aumento de até 3 pontos porcentuais nos juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve sacramentar mais um aumento dos juros básicos na reunião de terça e quarta-feira, a última da gestão de Armínio Fraga à frente do BC. Para os analistas, a disparada dos preços, a piora das expectativas de inflação e, para alguns, a necessidade de recompor o rendimento real das aplicações tornam necessária mais uma elevação da Selic, hoje em 22% ao ano. A maior parte dos analistas aposta num aumento de dois a três pontos porcentuais.

O economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, ressalta a contínua piora das expectativas de inflação como um dos fatores que justificam uma alta da Selic. Segundo ele, essa deterioração é preocupante porque as expectativas funcionam como a âncora do regime de metas inflacionárias. Se fogem do controle  tendem a afetar o curso efetivo da inflação. Na reunião anterior do Copom, as instituições consultadas pelo BC esperavam um IPCA de 9,81% para 2003; na semana passada, as expectativas haviam subido para 10,83%.

A inflação corrente também sugere a necessidade de um aumento dos juros, afirma Bassoli, que defende uma elevação de dois pontos. O IPCA de novembro ficou em 3,02%, o que levou a inflação em 12 meses para 10,93%. Mas o principal problema, como diz o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, sócio da Tendências, é que o surto inflacionário, originado da depreciação cambial, disseminou-se pela economia. Hoje, não são apenas os preços influenciados pelo dólar que estão em alta. Os bens não comercializáveis internacionalmente, que haviam subido 0,33% em outubro, aumentaram 1,26% em novembro. ?Para reagir a esse processo, é necessário adotar uma política monetária dura, elevando a Selic em dois a três pontos.? Loyola entende que as expectativas se deterioraram em parte porque há dúvidas sobre a política econômica em 2003.

José Augusto Savasini, da Rosenberg & Associados, chama a atenção para o fato de que fundos, CDBs e poupança estão rendendo menos do que a inflação. Em novembro, só os fundos de IGP-M tiveram rendimento real. Para ele, é fundamental elevar os juros para impedir que os investidores saquem os recursos das aplicações e os destinem ao consumo. Savasini acredita que o mesmo deve ocorrer em dezembro, uma vez que prevê um IPCA de 2%. Ele considera necessário um choque de juros, jogando a Selic ?bem acima de 25% ?, embora entenda que o Copom vá aumentar a taxa em três pontos.

Bassoli destaca que o nível de atividade não está enfraquecido como se imaginava, aumentando o espaço para o repasse de aumentos de custos para os preços. A produção industrial, por exemplo, cresceu em outubro pelo quinto mês seguido. E os sinais de desaceleração da inflação, registrados pela primeira prévia do IGP-M de dezembro, de 2,61%, ante 5,19% em novembro? Bassoli diz que o ápice do repasse da depreciação cambial ocorreu de fato em novembro e que os preços devem subir menos, mas entende que, como as pressões inflacionárias estão disseminadas, é preciso aperto monetário.

O vice-presidente da Nossa Caixa, Joaquim Elói de Toledo  é contra um aumento forte dos juros. Para ele, como há uma crença generalizada de que é preciso aumentar a Selic, o Copom deveria elevar a taxa em um ponto, para que não haja um impacto negativo sobre as expectativas. Isso poderia pressionar o câmbio – que subiu de R$ 3,55 para R$ 3,73 desde a reunião anterior do Copom -, afetando a inflação. Mas um choque de juros é uma má idéia, afirma ele, porque aumentaria as dúvidas quanto à solvência do País, já que 42,86% da dívida é corrigida pela Selic. E, diz Toledo, com desemprego elevado, os investidores não vão sacar os recursos aplicados porque o rendimento ficou negativo num ou noutro mês.

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