Mera pirotecnia

Nas pesquisas, os índices de popularidade do governo Lula estão em queda. O desemprego está em ascensão, o que é um fator de risco extremamente grave para qualquer governo. Quanto mais para o governo de um partido dos trabalhadores e que elegeu um presidente oriundo da área sindical. Mesmo tendo anunciado que o desenvolvimento econômico fica para depois e, por enquanto, é preciso paciência para que se possa arrumar a casa, ou seja, as finanças do Brasil, Lula retificou-se, dizendo que começaremos já a assistir ao espetáculo do desenvolvimento. Logo foi contestado pela Fiesp -Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que disse que não sabe de onde o governo vai tirar esse espetáculo. A Fiesp reúne as maiores empresas do País situadas em São Paulo, a locomotiva que puxa os demais Estados, como afirmam os paulistas.

O argumento dos industriais filiados àquela federação é que não há como produzir um espetáculo de desenvolvimento quando a indústria está retraída, mas ainda assim produzindo mais que o consumo. Este cai a olhos vistos. Para que haja um processo de desenvolvimento já, seria preciso uma melhora nos ganhos da população e uma redução drástica no desemprego, integrando ao mercado consumidor milhares de pessoas que estão sem trabalho. Mas o desemprego está batendo recordes. Há também sinais de recessão aqui e no mundo.

Gaba-se o governo de haver recuperado a confiança no Brasil, melhorando os índices de risco, que chegaram a números altíssimos no final do governo FHC. Isto é verdade, mas não se traduz em nenhum benefício visível. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social revela que a projeção média de investimento direto estrangeiro para este ano, levantada em bancos e consultorias, ficou abaixo da barreira dos US$ 10 bilhões. A previsão é que fique em US$ 9,9 bilhões, menor que os US$ 11 bilhões do mês anterior e a metade do que foi projetado em agosto do ano passado: US$ 18,7 bilhões.

O mundo não passa por bons momentos. Há retração de investimentos em todos os países desenvolvidos e as aplicações que ainda são feitas realizam-se de forma muito seletiva.

O medo de aplicar no Brasil, que durante a campanha eleitoral levou às nuvens os índices de risco, passou quando Lula assumiu e começou a praticar uma política financeira ortodoxa. Aliás, fez isso até com maior rigor do que sob a batuta de Pedro Malan. De outro lado, o atual governo tem contestado uma série de serviços que foram privatizados, dentre eles o de produção e distribuição de energia elétrica, o pedágio, os serviços de água e esgotos, de telefonia e outros mais. Contesta porque seus preços desagradam os consumidores e, com esta atitude, está defendendo interesses imediatos da população. Mas criando insegurança nos investidores estrangeiros que começam a desconfiar que, hoje ou amanhã, poderá haver uma onda de desprivatização, com a reestatização daqueles serviços. E eles foram e continuam sendo os maiores captadores de empréstimos externos. Seria um retorno às idéias socialistas que sempre tiveram abrigo no PT? Ou tudo estaria sendo causado pelo desejo de, nas eleições municipais do ano que vem, as forças do governo terem sucesso nas urnas?

Se for, o espetáculo do desenvolvimento, anunciado para já, seria um mero espetáculo pirotécnico.

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