Melhoramento do milho

O milho é cultivado em todos os estados do Brasil e em quase todas as propriedades agrícolas, tanto na agricultura familiar quanto na de exportação e está presente em todas as cadeias produtivas animais. É uma cultura de grande e diversificada utilização na sociedade moderna e um dos produtos agrícolas de mais ampla distribuição mundial, tanto na produção, quanto no consumo. Dentre as espécies originárias das Américas, o milho é, certamente, o de maior importância econômica e social em nível mundial. Em termos de área semeada e de produção de grãos, é o segundo cereal de maior importância no Brasil, sendo que, apenas nos dois últimos anos, perdeu a primeira colocação para a cultura da soja.

Os primeiros trabalhos com ênfase na obtenção de cultivares mais adaptadas às condições do Brasil começaram na década de 30, sendo que, já em 1939, no Instituto Agronômico de Campinas, foi obtido o primeiro híbrido duplo no Brasil. Fomos o segundo País a adotar o milho híbrido no seu sistema de produção, com evidentes reflexos na produtividade.

Antes da década de 60, as cultivares de milho utilizadas, além de pouco produtivas, eram excessivamente altas, acamavam com facilidade, tinham baixa eficiência fisiológica e não suportavam altas densidades de semeadura. Com os trabalhos de melhoramento foram conseguidas mudanças expressivas não só na produtividade como na redução do porte das plantas, produzindo, em conseqüência, maior adaptabilidade a condições de estresse hídrico, maior capacidade de resposta à adubação, menor acamamento, maior resistência a doenças e pragas e aprimoramento da qualidade nutritiva dos grãos. Além disso, obtiveram-se plantas adaptadas ao cultivo em solo de cerrado, o que contribuiu para que o milho se tornasse uma das principais culturas nessas regiões, permitindo ainda a exploração de rotação da cultura do milho com a soja.

No cultivo da “safrinha”, foi possível, por meio de pesquisa, especialmente com a identificação de cultivares mais adaptadas, tornar mais eficiente esse sistema de plantio, que na safra 2002/2003, segundo dados da Conab, foi responsável por mais de 20% da produção brasileira de milho.

Os efeitos do melhoramento podem ser vistos também no aumento da produtividade média nacional. De 1.220 kg/ha na safra 77/78, a produtividade média nacional saltou para 3.360 kg/ha em 2002/2003. São 2.140 kg/ha de aumento na produtividade em apenas 25 anos. Considerando que 50% desse aumento foi devido ao melhoramento genético e os outros 50% devido às melhorias nas condições de cultivo, são 42,8 kg/ha/ano de contribuição do melhoramento. Nos últimos anos, a área de cultivo de milho no Brasil tem sido de, aproximadamente, 10 milhões de hectares. A um valor de mercado de R$ 15,00 por saca de 60 kg de grãos, chega-se a R$ 107 milhões, por ano, como fruto direto do melhoramento.

No Estado de Roraima, devido às condições edafoclimáticas e a sua localização, existe um grande potencial para a produção de grãos. Porém, as cultivares utilizadas pelos agricultores são aquelas recomendadas para as regiões grandes produtoras de grãos, nem sempre bem adaptadas às condições de Roraima. Mais uma vez a pesquisa vem trazer a sua contribuição, através da Embrapa Roraima, que vem desenvolvendo um trabalho de melhoramento com duas vertentes.

Uma voltada para a agricultura familiar, cujo objetivo principal é o desenvolvimento de variedades melhoradas e com alto teor nutritivo. A outra é voltada para a agricultura empresarial, cujo objetivo principal é o desenvolvimento de híbridos com alto potencial produtivo no estado, o que, sem dúvida, contribuirá para o aumento da produção de grãos na região. Como exemplo de variedades e híbridos recomendados para Roraima podem-se citar a variedade BR 106, com produção média de 3.000 kg/ha, o BR 3123, com produção média de 5.000 kg/ha, entre outros. Mais recentemente a Embrapa Roraima desenvolveu um híbrido intervarietal, o BRS Caimbé, que apresenta potencial produtivo de 6 mil a 8 mil kg/ha.

Tudo isso comprova que o investimento feito pela sociedade brasileira, através do financiamento de pesquisas focadas no melhoramento genético de grãos, como o milho, recompensou em muito o que foi aplicado.

Aloísio Alcântara Vilarinho é pesquisador da Embrapa Roraima. E-mail: aloísio@cpafrr.embrapa.br

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