Medo do Brasil

Tem gente que tem medo de bicho-papão, de fantasma, de cemitério. É irracional. Nós temos medo do Brasil, de seu futuro com o aumento da criminalidade, da pobreza e do desemprego. E aí não há nenhuma irracionalidade. O jornal britânico Financial Times, um dos mais respeitáveis em economia no mundo, classificou de irracional o medo do mercado em relação aos títulos da dívida brasileira. “Há dois meses atrás, todo mundo adorava o Brasil. Agora todos odeiam. Isso tem pouco a ver com os fundamentos econômicos do país, é um fenômeno psicológico”, avaliou Jerome Booth, diretor de pesquisa do fundo de investimentos Ashmore Investment Management, em entrevista para uma edição eletrônica do Financial Times. Ele, entretanto, não encontra nenhum lenitivo suficiente para debelar esse medo. Não basta nem a avaliação do Fundo Monetário Internacional, que considerou a economia brasileira “forte e consistente”.

O jornal britânico considera a gula do mercado financeiro internacional por títulos da dívida de mercados emergentes, entre os quais está o nosso, em situação de exaustão. Esses títulos eram a menina dos olhos dos investidores e a razão é muito simples: os juros altos.

Acontece que as disponibilidades de recursos para esse tipo de investimentos estão se esgotando no mundo e se retraindo nos Estados Unidos, onde o mercado está apavorado com os escândalos envolvendo as suas maiores empresas. A liquidez – o dinheiro disponível – diz o jornal especializado, é a menor dos últimos oito anos.

Há, pois, um novo ciclo no campo dos investimentos internacionais e crises intercorrentes, como a das fraudes nas grandes empresas multinacionais, a quebra da Argentina com contaminação do Uruguai e Paraguai e prejuízos ao Brasil, um governo populista na Venezuela e eleições no Brasil, com possibilidades de vitória de um candidato aparentemente de esquerda. Estamos fazendo o que tem de ser feito. Pelo menos estão fazendo nossas autoridades da área econômica, declarando todos os dias que vamos bem, obrigado; e que todos os candidatos são confiáveis. Armínio Fraga, presidente do Banco Central, faz um périplo pelo mundo desenvolvido, que conhece bem e nele é bem conhecido, participando de encontros individuais e coletivos com quem decide ou forma opinião no mercado, para mostrar que a economia brasileira é confiável. Os nossos candidatos de oposição fazem uma difícil ginástica para não pregar aberto desastrocismo, sem abrir mão de críticas à política econômica do atual governo, pois isto parece que dá votos.

Essa tentativa de exorcizar os fantasmas deve continuar, cada vez mais firme, para evitar que os prejuízos cresçam e se tornem insuportáveis para este e, principalmente, para o próximo governo. Entretanto, se estamos convencidos de que somos capazes de pagar a dívida pública interna e externa, embora os credores duvidem, talvez seja oportuno começarmos a nos preocupar com outra dívida, antiga, gigantesca e, esta sim, ainda sem fórmulas confiáveis para ser saldada. Nos referimos à dívida social que atravessa séculos, desafia governos e mais governos e está chegando a um ponto tão crítico que não admite mais postergações. Que ela e seu pagamento sejam tópico essencial nos programas dos candidatos e nas preocupações dos eleitores, pois se estamos convencidos que em relação aos credores internos e externos da dívida pública não devemos ser caloteiros, caloteiros não continuemos sendo para milhões de credores da dívida social.

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