Maquin

As máquinas usadas para cultivar, semear e colher a soja, além dos caminhões para o transporte e os silos de armazenamento são os principais responsáveis pela contaminação de soja convencional por soja geneticamente modificada. Esta é uma das conclusões do dossiê Soja Transgênica no Brasil e do vídeo Transgênicos, apresentados ontem pelo Greenpeace, na 5.ª Feira de Sabores do Paraná, no Parque Barigüi, em Curitiba.

Fora o maquinário, a polinização cruzada é outra ameaça de contaminação das safras puras. O engenheiro agrônomo do Greenpeace, Ventura Barbeiro, explicou que um agricultor que já plantou transgênico não pode plantar simplesmente soja convencional no ano seguinte, pois a terra daquela lavoura estará contaminada. “Vai levar, no mínimo, dois anos para descontaminar. Ele terá que utilizar a terra para plantar outro tipo de cultura”, explicou, lembrando que é impossível o convívio próximo entre lavouras de soja convencional e transgênica. Fatalmente, a lavoura convencional será contaminada.

Segundo Barbeiro, o valor da soja convencional é maior em alguns lugares, fazendo com que seja mais rentável esse plantio. Esta, além da questão da segurança alimentar e do meio ambiente, são as razões pela quais o engenheiro defende o plantio convencional. “A cooperativa Cotrimaio, da cidade de Treze de Maio, no Rio Grande do Sul, vende a soja convencional dos pequenos produtores que a formam por 6% a mais do que é pago pela transgênica. Desse percentual, 4% vai aos produtores”, contou.

Ele lembrou que no mercado internacional a soja convencional também é mais valorizada: “Recentemente, numa reunião entre brasileiros e alemães, a Alemanha solicitou ao governo do Brasil um Estado livre dos transgênicos e um porto de onde não saíssem Organismos Geneticamente Modificados (OGMs)”, revelou. Estranhamente, o governo federal indicou o Mato Grosso, sequer citando o Paraná ou o Porto de Paranaguá. “Em agosto traremos uma missão ao Paraná, para preparar negócios que devem ser feitos em outubro. O frango que não é alimentado com produtos transgênicos vale o dobro no mercado francês”, contou o cônsul honorário da França no Brasil, Franscisco Borghoff. O Greenpeace pretende promover no dia 28 de agosto, um evento convidando compradores de soja do mundo todo para vir ao Paraná. O objetivo é valorizar a soja in natura do Estado.

Um dos problemas da soja transgênica é que o agricultor fica obrigado a pagar royalties aos detentores da patente das sementes. O agricultor gaúcho Luiz Antônio Schio teve parte de sua lavoura de soja contaminada com soja transgênica plantada pela fazenda vizinha. Ele teve que realizar testes e comprovar que sua soja não era OGM, caso contrário teria que pagar royalties. Por sorte, apenas as plantas mais próximas da divisa das fazendas foram contaminadas. “Não planto transgênicos, olho primeiro para saúde das pessoas”, disse.

O presidente da Associação Xavante Warã, do Mato Grosso, Hiparidi Top?tiro, contou que os rios e os animais de sua aldeia, que ficam próximos a lavouras transgênicas, também acabaram se contaminado.

Ervas daninhas

Segundo o Greenpeace, a utilização do glifosato faz com que a ervas daninhas ganhem resistência cada vez maior e fiquem imunes ao produto. Nos Estados Unidos, em oito anos de cultivo transgênico, a quantidade de agrotóxico usado praticamente dobrou. No Rio Grande do Sul já está se desenvolvendo uma erva daninha imune ao glifosato. “Esse não é um sistema agrícola sustentável”, criticou Barbeiro.

Glifosato traz riscos

A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) alertou que a soja transgênica tem altos índices de contaminação por glifosato, agrotóxico utilizado neste tipo de cultura. O Departamento de Fiscalização de Sanidade Agropecuária da Seab recebeu o resultado das análises encomendadas à Universidade Federal do Paraná (UFPR). O estudo revelou que de 19 amostras analisadas, apenas três não apresentaram algum nível de contaminação pelo glifosato.

O Departamento de Fiscalização coletou amostras da soja transgênica para verificar se o agricultor utilizou o agrotóxico na parte aérea da lavoura, o que é proibido, e para detectar a quantidade de resíduo de glifosato remanescente. “Se até um ano atrás tivessem sido encontrados os índices de contaminação verificados nestas amostras, elas seriam vetadas para o consumo humano”, ressaltou Carlos Alberto Salvador, responsável pela Divisão de Sanidade Vegetal da Seab.

No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aumentou em 50 vezes os índices de tolerância deste tipo de resíduo, conforme informou o chefe da seção de Fiscalização do Receituário Agronômico, Reinaldo Onofre Skalisz.

Até 2003, a Anvisa indicava como limite a presença de 0,2 mg/kg de glifosato nos grãos de soja. O produto que apresentasse índices maiores deveria ser destruído. Atualmente, o máximo tolerado é 10 mg/kg. “Nós, da Fiscalização, questionamos esse aumento da tolerância, uma vez que com ela é aumentada também a margem de risco de contaminação do produto e de danos à saúde humana e animal”, avaliou Salvador, da Divisão de Sanidade Vegetal.

Resultados

O exame detectou ainda a presença de um metabólito (substância produzida por metabolismo) gerado pela transformação do glifosato -AMPA (aminometilfosfônico), cuja toxicologia não é bem conhecida, segundo técnicos do Departamento de Fiscalização de Sanidade Agropecuária – Divisão de Sanidade Vegetal. “Alertamos ao consumidor que evite consumir a soja transgênica in natura, pois poderá estar ingerindo o glifosato”, alertou o chefe da seção de Fiscalização do Receituário Agronômico, Reinaldo Onofre Skalisz.

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