Manobra sorrateira

A luta intestina que esgarça a cada momento a tessitura ideológica do Partido dos Trabalhadores, de resto, perigosamente puída não apenas pelas tradicionais desavenças do ambiente partidário, mas pelo incontido afã de hegemonia do Campo Majoritário, talvez o principal foco da briga de foice que mancha de modo inequívoco a bela página escrita pelo partido, ao longo de sua história vitoriosa, está longe de acabar.

O round mais recente do choque de interesses vivido pelo PT está na resistência ao nome do deputado José Eduardo Cardozo (SP), que almeja tornar-se presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Setores ainda não identificados pelo deputado se manifestaram contrários à idéia, levando-o a classificar a ação como ?manobra sorrateira?.

Diante do impasse, o mínimo que o observador pode dizer é que se o primeiro partido da coalizão governista não se entende, como poderá liderar o grupo de mais de 330 deputados que integram a base atual do presidente Lula? Cardozo reiterou aos jornalistas não ter conhecimento da determinação e chegou a desconfiar de sua existência, ou seja, que o PT não deva pleitear a presidência do referido conselho, franqueando o espaço para outro partido da aliança.

Aliás, o mal-estar de Cardozo cresceu ao ficar sabendo da existência do veto pela leitura dos jornais, frisando que em nenhum de seus contatos com a bancada, incluindo as reuniões formais, mesmo tendo explicitado o intento de disputar o cargo, ouviu qualquer opinião desanimadora.

Cardozo participou da CPMI dos Correios e, em mais de uma ocasião assumiu posições de confronto com as orientações então formuladas pelo partido, a seu ver, muitas vezes inversas aos ideais que sempre defendera. Não há indícios de que esse tenha sido o múnus do veto, mas não é improvável que a repentina má vontade de alguns petistas tenha raízes nesse comportamento independente.

Como os proponentes do veto não deram publicidade ao mesmo, Cardozo também se absteve de citar nomes, embora tenha assegurado a existência no PT de pessoas pregando o pensamento único, além de qualificar como heréticos aqueles que têm a coragem de divergir.

Voltar ao topo